sábado, 26 de janeiro de 2008

Sonhos lúcidos no Tibet




SONHOS LÚCIDOS NO TIBETE

Otávio Ferreira de Aquino

O Tibete, o paraíso dos poderes paranormais, deu um grande destaque aos sonhos lúcidos. Talvez o maior que uma cultura já deu. Já no séc. VIII da era cristã tinham o seu próprio manual para entrar consciente nos sonhos, per­manecer lúcido e sonhar a noite toda.

Nós encontramos no "Livro Tibetano dos Mortos", o Bar­do Thodol, entre os exercícios iogues, a Doutrina do Estado do Sonho, que consiste em vários meios para manter uma consciência no sonho igual ou maior do que no estado da vigília ativa, passar de um estado para o outro, sem perder a memória, sem nenhum lapso mnemônico.

Dizem os tibetanos, que vários dos seus mestres alcançaram plenamente esse estado, que controlavam os seus sonhos ao seu bel prazer.

Para nós ocidentais é incompreensível a linguagem sim­bólica tibetana. O melhor é tentar comparar o que eu escrevi ao longo deste livro em vários capítulos e fazer um paralelo com 0s ensinamentos tibetanos. Pelo menos vai ser o jeito mais fácil de compreender.
Em primeiro lugar, o objetivo do sonhador lúcido tanto lá quanto cá é o viver melhor e o crescimento psicológico. O que varia é o conceito de melhoria de vida e crescimento psicológico. Para eles é se preparar para a morte, para nós não.

Eles têm um interessante conceito de Estado de Sonho Ausente, esse termo, pela sua própria natureza, é um pouco diferente do sonho lúcido sem sonho. Nesse estado do sonho ausente, para a mente plenamente iluminada tudo, tudo mesmo, sonho e vigília ativa e todos os reinos psíqui­cos são sonhos, e se está livre dessas ilusões. Ou será que os conceitos são idênticos ? Juro que não estava pensando no Tibete quando escrevi sobre o sonho sem sonho. Até pensei que fosse um conceito original. Bem, continuo achando que são diferentes.

Uma coisa que eles incentivam muito nos sonhos, diga­mos 2-3, é você transmutar o conteúdo dos sonhos. Assim, se você sonha com fogo, mude o sonho para água, se sonhar com pequeno mude para grande e assim por diante. Isso nada mais é que o controle dos sonhos, que é um dos componentes do sonho lúcido. Outra coisa que eu quero chamar a atenção é que para alcançar o estado de plena lucidez nos sonhos eles passavam o dia meditando o conteúdo de seus sonhos. Ou seja, eles dão muita importância aos sonhos e, por isso, aumentam e muito, seus rendimen­tos. É por isso que o sonho, dos ocidentais, é fraco.

Eles têm uma prática que se chama compreensão pelo poder da resolução, que se refere a resolução de se manter ininterrupta a continuidade da consciência ao longo de am­bas as vigílias, ativa e onírica. Isso nada mais é do que a força de vontade de se manter acordado nos sonhos e a vigília ativa, desperto, lúcido, todavia, só tem um pequeno problema, é muito difícil.

Um outro conceito que é "unha-e-carne" é o conceito de Buda, que nada mais é do que o ser plenamente realizado, o que casa com a definição positiva do 'aluno nota 10’. Aliás, também são muito semelhantes os conceitos de mente plenamente iluminada e o mais profundo do mais profundo do mais profundo do nosso' ser, que chamo de "E2".

É interessante notar que eles descrevem certas regiões geográficas dos sonhos que são muito consistentes. Eles não têm nomes muito exóticos, mas tem a ver com o que eu chamei de sonhos impessoais.

Nota-se que o controle dos sonhos na fase de transmuta­ção relaciona-se, também, com práticas terapêuticas, ou seja, o aprendiz tibetano, sem o saber estava fazendo uma sessão de terapia onírica, mas o seu guru sabia.
Há uma história, um ensinamento, que pode ter ocorrido ou não. Certa vez, um sonhador lúcido tibetano, que havia visitado todos os reinos dos sonhos, mas não tinha alcança­do ainda a iluminação, veio ter com Buda, que lhe ensinou o caminho, e esse personagem alcançou a iluminação.

Pode-se ver claramente, o caráter complementar da vigília ativa-onírica. O sonhador lúcido não era dos melho­res. Os reinos dos sonhos são ponto 5, não passou daí. Buda iluminou-o, aí ele passou para 7° ponto. Ele precisou de Buda para se auto-realizar (sic).

Quanto ao problema da morte, eles a consideravam uma espécie de sonho, com características muito peculiares, e, cabe ao yogue tentar manter uma lucidez nesse processo todo da mesma maneira que o sonhador lúcido durante o sono.







Do livro: TEORIA E PRÁTICA DOS SONHOS LÚCIDOS

de Otávio Ferreira de Aquino


Ed. Xama


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