quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Estado Não Usual da Consciência Extra-Vigil


Por: Cleber Monteiro Muniz - 2001

Fonte: http://gballone.sites.uol.com.br/colab/cleber6.html#1


"I begin again as the world outside ends"

Love Spirals Downwards


Estar desperto dentro de um sonho (no sentido literal da expressão) é estar em um estado não-usual de consciência. A modalidade de discernimento e alerta que se tem durante sonhos lúcidos é pouco comum na sociedade em que vivemos, não é muito freqüente. Para a maioria das pessoas seria um estado de consciência alterado, modificado.Para alguns estudiosos, o funcionamento consciente usual, aquele que a maioria das pessoas possui no estado normal de vigília, não é o único existente. É o que afirmou Willian James em uma obra conhecida por muitos ( em Capra, 2000, p. 31):


"Nossa consciência normal do estado de vigília - a consciência racional, como a denominamos - constitui apenas um tipo especial de consciência, ao passo que, ao seu redor, e dela afastada por uma película extremamente tênue, encontram-se formas potenciais de consciência inteiramente diversas" (grifo meu).


Além do funcionamento consciente normal da vigília, ou seja, aquele que se tem quando o corpo físico está acordado, o ser humano possuiria, em estado latente, outras modalidades de despertar. Essas modalidades de consciência seriam extra-vígeis, presentes nas horas em que o homem não estivesse acordado. Obviamente, se não correspondem à consciência de vigília, tudo indica que James se refere a uma consciência durante o sono.




Experiências conscientes nas quais se ultrapassa o mundo tridimensional seriam conhecidas pelos místicos do oriente, os quais "parecem estar em condições de atingir estados não-usuais de consciência nos quais transcendem o mundo tridimensional da vida cotidiana de modo a experimentar uma realidade mais elevada, multidimensional. Assim, Aurobindo refere-se a 'uma mudança sutil, que faz com que a vista veja numa espécie de quarta dimensão'." (Capra, 2000, p. 133, grifo meu).




O mundo tridimensional não seria o único passível de experimentação consciente. Outros níveis dimensionais também fariam parte da realidade e poderiam ser acessados pela consciência alterada. Poderíamos incluir aqui o mundo onírico pelo fato dele não ser tridimensional: seus elementos componentes não possuem, desde um ponto de vista físico e externo, as características que chamamos largura, altura e comprimento. As imagens noturnas não podem ser medidas em centímetros ou pesadas. Entretanto elas são reais pois estão vivas dentro de nós.




O homem possuiria recursos internos para acessar o que não pode ser visto, ouvido, tocado e palpado com o corpo físico pois suas "experiências multidimensionais transcendem o mundo dos sentidos"(idem, p. 228), ou seja, conduzem ao contato com o que está além do nosso universo sensorial. As figuras arquetípicas que surgem em sonhos possuem formas e, algumas vezes, cores. Há, nos sonhos uma forma de "visão psíquica" que nos permite descrever as características morfológicas das imagens com as quais sonhamos. Porém, bem sabemos que esse tipo de visão não pertence aos cinco sentidos externos. Ela os transcende e, não obstante, ainda assim pertence ao ser humano pois está presente nos relatos oníricos.




Referindo-se a estados não-usuais de consciência em culturas primitivas, antigas e aborígenes, Grof nos diz que nelas "existe a idéia de que esta realidade visível não é a única existente, há outras realidades paralelas onde existem espíritos, demônios, elementos arquetípicos ou mitológicos, entidades encarnadas, animais de poder e assim por diante". Essas culturas não conceberiam como aberrante ou absurda a idéia de que o mundo fantástico é, à sua maneira, real. Paralelamente à realidade visível, haveria uma realidade invisível que poderia ser acessada conscientemente (atente-se para o fato de que o estudioso está se referindo a estados de consciência e não de inconsciência; ele não está tratando de processos que se dão sem a presença da lucidez). Tal realidade corresponderia ao mundo imaginal e poderia abranger também seu lado onírico pois seria habitada por entes arquetípicos fantásticos e mitológicos, os quais sempre surgem em sonhos.




Corroborando essa visão, Harnisch (1999, p.7) afirmou que "os índios da América do Norte consideravam os sonhos como visões de uma outra realidade, que para eles traçava um paralelo com o seu mundo desperto. De uma forma parecida compreendiam-se os sonhos na China. Atribuía-se-lhes uma uma elevada qualidade vivencial e estes eram vivenciados com uma intensidade tão extraordinária que as pessoas se perguntavam: qual será pois a verdadeira realidade: o sonho ou aquilo que que se vivencia no estado de vigília?" (grifo meu)Nessas culturas, o universo dos sonhos e o universo vígil são paralelos. Cada um desses universos é real à sua maneira.




Ao empreender uma descida consciente às profundidades do oceano interior, o homem penetraria em um mundo real, verdadeiramente existente, embora sob outra forma. A esse respeito, Jung (1984, p. 14) escreveu:


"É muito difícil acreditar que a psique nada representa ou que um fato imaginário é irreal. A psique só não está onde uma inteligência míope a procura. Ela existe, embora não sob uma forma física. Ë um preconceito quase ridículo supor que a existência só pode ser de natureza corpórea [física]. Na realidade, a única forma de que temos conhecimento imediato é a psíquica. Poderíamos igualmente dizer que a existência física é pura dedução uma vez que só temos alguma noção da matéria através de imagens psíquicas, transmitidas pelos sentidos."


A existência psíquica seria real e válida como a física e talvez até mais. Conclui-se, por extensão, que adentrar a uma cena onírica conscientemente é adentrar a um mundo feito de imaginação mas nem por isso menos verdadeiro. A realidade imaginal interna é paralela à externa.Nas já mencionadas culturas antigas e primitivas são "criados espaços para que (...)[as experiências em estados de consciência não-usual] possam ser vivenciadas com segurança e métodos para se desenvolverem com intensidade. Nesses estados alterados de consciência é que nascem a rica mitologia e a espiritualidade daqueles povos. Estados não-usuais de consciência são utilizados por culturas ancestrais para (...) [a realização de] coisas práticas e corriqueiras tais como encontrar objetos ou pessoas perdidas ou para localizar rebanhos de animais a serem caçados, inclusive elas desenvolveram cerimônias para aumentar ainda mais a capacidade de modificar a consciência, com objetivos bastante práticos." (Grof, 2000, internet). A realidade invisível seria acessada conscientemente e esse acesso estaria fortemente ligado ao cotidiano prático e concreto desses povos, os quais teriam inclusive aperfeiçoado ritos para intensificá-lo e nele minimizar a exposição a possíveis perigos. A consciência assim alterada teria uma utilidade no mundo tridimensional: caça e localização de pessoas perdidas. Ela não serviria a uma fuga da realidade externa mas a completaria. O universo mítico brotaria de seu seio e por ele os homens se orientariam.Entretanto, haveria em nossa cultura uma limitação que a tornaria avessa a tais experiências e a levaria a tomá-las como estranhas:


"Nós não apenas patologizamos estas práticas como também proibimos a utilização de substâncias ou cerimônias que possam levar à mudança de estados da consciência. Por exemplo, dentro da psiquiatria saxônica não há uma distinção clara entre misticismo e estágios psicóticos. Em geral, esta diferença de visão de mundos entre as sociedades tradicionais e a nossa sociedade industrial/ocidental é explicada pela 'superioridade filosófica' da nossa visão 'limitada' de mundo. Depois de trabalhar 40 anos nessa área do conhecimento, minha opinião sobre isso é que esta diferença de visão de mundo tem mais a ver com a enfermidade e com a ignorância da ciência ocidental em relação aos estados não-usuais de consciência." (idem)


Assim, nossa dificuldade em lidar com esses estados se deveriam a bloqueios culturais fortes, relacionados com a possessão coletiva por complexos de superioridade e que exerceria seus efeitos principalmente sobre a ciência, aliada à uma atrofia ritualística. A incapacidade, presente na ciência em moldes eurocêntricos, de diferenciação entre a experiência mística e os estágios psicóticos seria decorrente desse estado enfermo e da ignorância ocidental com relação a formas de consciência presentes em culturas antigas, primitivas e orientais e aos meios de se desenvolvê-las. A ausência de espaço na modernidade para o cultivo prático e alternativo da consciência teria ocasionado uma atrofia dos seus estados não-usuais em modo não-patológico e estabelecido entre nós e outros povos um abismo. Em virtude desse abismo, não seria possível a correta comunicação de certas experiências pois os relatos de teor extra-sensorial (tais como aparições de entes fantásticos ou viagens a outros mundos) seriam vistos por nós como manifestação de ignorância pura e simples. Ao invés de considerarmos cuidadosamente tais manifestações desde o mesmo ponto de vista cultural que as origina, como corresponderia a uma postura legitimamente científica, imporíamos na abordagem das mesmas nossa visão de mundo, nos esquecendo de que a realidade não se adapta aos nossos caprichos teóricos. Seríamos surdos e cegos para certas experiências psíquicas pelo fato de não as enxergarmos tal como são mas sim como nos parecem. Ao abordá-las, veríamos nelas apenas os nossos próprios pontos de vista. A ciência ocidental relutaria em reconhecer que a espiritualidade é "algo importante e profundo, (...) parte da psique humana e não apenas uma questão de falta de educação científica" (ibidem).



Essa confusão a respeito da natureza de certas experiências conscientes transcendentais preservadas e aperfeiçoadas em outras culturas através dos séculos se deveria à limitação do alcance do nosso intelecto:


"Quando se trabalha com estados não-usuais de consciência, começamos a entender melhor esta confusão e vamos chegar ao que Jung já havia descoberto há anos: o intelecto é parte da psique e esta é cósmica, abriga tudo o que existe. Não podemos entender, com o intelecto, como funciona a psique de uma outra pessoa (...)." (Grof, 2000, internet)


A abordagem exclusivamente intelectual seria um obstáculo que dificultaria a compreensão do funcionamento psíquico de alguém. E, parece-me, isso é sobremaneira válido no caso desse alguém pertencer a um contexto cultural completamente adverso ao nosso. Ao abrigar tudo o que existe no universo, a psique precisa ser abordada também sob prismas não-intelectuais. Isso não significa que o intelecto seja inútil mas apenas que sua abordagem seja parcial. À abordagem intelectual, dever-se-ia acrescentar outras, que na sociedade atual não são utilizadas. Se buscamos a totalidade, não podemos aderir teimosamente a instrumentos cognitivos parciais. Entre as abordagens válidas está a simbólica, com sua via analógica que nos permite conceituar e expressar intelectualmente aquilo que é inacessível à mente racional. A metáfora é a ponte entre o compreensível e o incompreensível e nos permite a comparação. Uma demonstração analógica torna o obscuro menos incompreensível.




Para Jung (1984, pp.18-19) a extroversão excessiva dos dias atuais levaria a uma negligência para com os acontecimentos internos, inclusive dentro da ciência. Ele nos diz que o "preconceito, muito difundido, contra os sonhos, é apenas um dos sintomas da subestima muito mais grave da alma humana em geral. Ao magnífico desenvolvimento científico e técnico de nossa época, correspondeu uma assustadora carência de sabedoria e introspecção. É verdade que nossas doutrinas religiosas falam de uma alma imortal, mas são muito poucas as palavras amáveis que dirige à psique humana real; esta iria diretamente para a perdição eterna se não houvesse uma intervenção especial da graça divina. Estes importantes fatores são responsáveis em grande medida - embora de forma não exclusiva - pela subestima generalizada da psique humana." Embora tivéssemos grande desenvolvimento técnico, teríamos grande atraso introspectivo. Haveria uma aversão bem difundida contra as viagens do ego às vastidões profundas do si mesmo e isso decorreria da ignorância a respeito da natureza da alma. Nem mesmo as nossas religiões seriam capazes de preencher essa lacuna. Haveria uma subestima da psique e um preconceito contra os sonhos. Os sonhos lúcidos não seriam, portanto, cultivados ou vistos com bons olhos em nossa sociedade.




Entretanto, nos dias atuais a ciência estaria se abrindo para a possibilidade de se desligar a consciência dos órgãos sensoriais externos do corpo físico e transpô-la para fora deles, mas essa abertura seria ainda incipiente:


"A tanatologia vem estudando casos de cegueira congênita, em que as pessoas que viveram experiências fora do corpo descrevem o que acontece na sala de operações ou em outros locais e, quando voltam, descrevem o que viram, as explicações são confirmadas, só que quando retornam ao corpo físico, continuam cegas como antes. Estas experiências continuam sendo negadas pela comunidade científica." (Grof, 2000, grifo meu)


As pessoas investigadas seriam cegas, não tendo, portanto, o poder da visão externa mas, durante cirurgias, visualizariam os acontecimentos da sala de operações em que estavam e até acontecimentos fora dela e isso seria passível de confirmação. As imagens obtidas sem o recurso dos olhos seriam comparadas às realidade visível e haveria uma correspondência entre ambas: de alguma maneiro os pacientes saberiam o que se passava nas imediações. O fato dessa percepção não-usual acontecer em salas de operações sugere que a pessoa estaria dormindo ou desmaiada experienciando, provavelmente, uma modalidade não-usual de sonho.Algumas pessoas com maior aprimoramento intelectual seriam especialmente sensíveis a ponto de perceberem outras realidades conscientemente. A experiência que Grof teve "principalmente com pessoas que têm grande treinamento científico e filosófico e que têm Q.I. muito desenvolvido, (...)[foi] que estas, quando em trabalho com estados não-usuais de consciência, entram em contato com experiências espirituais e místicas. E elas, não podendo negar a realidade espiritual, começam a se interessar pelas tradições místico-religiosas, tanto no oriente quanto no ocidente." (ibidem, grifo meu). Não seriam apenas pessoas pertencentes a culturas ágrafas ou "atrasadas" que experienciariam conscientemente as realidades paralelas, entre as quais podemos incluir a dimensão onírica. Isso parece reforçar ou sugerir a idéia de que o funcionamento consciente que consideramos não-usual é arquetípico e está latente mesmo nas pessoas ocidentais e intelectuais. Para que ele se desenvolvesse, precisaria ser contatado e ativado. O aperfeiçoamento científico-filosófico e a inteligência não o excluiriam. O que o excluiria seria o preconceito, o qual resultaria em negligência e impediriam o seu cultivo. Não obstante, o próprio Grof, um cientista que teve formação materialista em um país do leste europeu, afirmou transcender conscientemente os limites do corpo físico sob efeito do LSD.



Referindo-se a uma experiência feita na clínica em que trabalhava, o estudioso relatou:


"Quando estava no ponto máximo do experimento, no ponto mais intenso do efeito daquela substância, eles me chamavam, para que se fizesse a experiência do monitoramento das [minhas] ondas cerebrais. Deitado com uma luz estetoscópica na minha frente, de repente me senti como que no meio de uma explosão atômica. Hoje analiso que o que eu vivi mesmo, naquele momento, foi a luz inicial da minha consciência, que foi catapultada para fora do meu corpo... e em um instante 'eu' saí da clínica, saí de Praga e saí para fora do planeta. Minha consciência era o reflexo de tudo que existia no universo. E aumentando a intensidade da experiência com o aparelho, fui voltando ao meu corpo físico." (ibidem)


Esta experiência apresenta conteúdos semelhantes aos de certas experiências em meditação e de um sonho tido pelo próprio Jung (p. 253, 1963) no qual ele nos relata ter voado até deixar o planeta Terra e vê-lo das alturas. É interessante notar que a experiência de Grof apresenta o abandono temporário das percepções sensoriais corporais pela consciência, pois do contrário a mesma não poderia ter sido lançada para fora do corpo físico, da clínica e da capital da antiga Tchecoslováquia. Ser lançado para fora de algo é deixá-lo e, por isso, entendo que a consciência deixou as funções sensoriais externas do corpo físico. Obviamente, isso não seria possível sem que este, no decorrer da experiência, perdesse o estado vígil. Caso contrário não se diria que a consciência "saiu do corpo".




Quando dormimos em situações comuns, sem recursos químicos adicionais, e adentramos às regiões oníricas, as percepções externas cessam, nos casos em que não há sonambulismo, do mesmo modo que na experiência de Grof. Evidenciamos, assim, que o abandono do corpo físico pela consciência é um ponto comun às experiências mencionadas. Quando adormecemos, deixamos de perceber muitas coisas que se passam conosco: que estamos deitados, mal posicionados, que temos saliva escorrendo pela boca, que roncamos etc. Provavelmente, ninguém negaria que durante o sono as funções sensoriais externas ficam muito reduzidas e que na morte elas param. O relato de Grof parece ser um caso de experiência onírica consciente sob o efeito da droga.




De acordo com Sanford (1988), a consciência poderia irromper em pleno sono durante certos pesadelos:


"A participação da consciência num sonho é responsável pelo fato de as pessoas dizerem às vezes que despertam dos sonhos pela própria vontade, especialmente quando se tornam aterrorizadores. Às vezes ouvimos das pessoas: 'Eu disse para mim mesmo para despertar, e o fiz'." (p. 56)


Essas pessoas diriam a si mesmas, principalmente durante sonhos terríveis, que deveriam despertar e usariam isso como recurso para sair da cena onírica indesejável. Para que o ego chegue ao ponto de dizer isso para si mesmo, é preciso que ele tenha o discernimento de que está dormindo. Ninguém afirmaria que precisa acordar se não compreendesse que sonha.Essa modalidade especial de consciência seria uma variante da capacidade de interferir conscientemente no conteúdo dos sonhos, programando-os previamente. Isso facultaria ao ego a chance de modificar sua forma de reagir ao contato dos elementos oníricos, desde que este não tentasse impor seus caprichos ao inconsciente. Ao modificar as reações no sonho, a pessoa poderia adquirir experiências novas:


"Uma das variações do sonhar programado chama-se 'sonhar com lucidez'. Convida-nos a nos tornarmos 'despertos' no sonho ou, por outras palavras, a sermos capazes de reconhecer, no sonho, que estamos sonhando. Dizem que isso nos capacitaria a redirecionar nossos sonhos. Se conseguirmos fazê-lo no sentido que quisermos, ou se formos capazes de dar ao sonho um final agradável ou favorável, no meu modo de pensar, isto seria uma grande perda(...). Contudo, se esse 'estado de vigília' for utilizado com o objetivo de termos oportunidade de mudar nossas reações no sonho e podermos escolher outras respostas [e não apenas as mesmas de sempre, aquelas nas quais nos mecanizamos e às quais estamos apegados], o assunto já é diferente. Nesta hipótese, teríamos uma forma de 'imaginação atuante', o que seria [um] processo auxiliar (...)[na interação com os conteúdos psíquicos que estão se expressando e personificando durante o sonho]. Há grande diferença entre tentar manipular o inconsciente para adaptá-lo à nossa fantasia e alterar as respostas de nosso ego de acordo com o que está acontecendo em volta, e devemos nos lembrar e aproveitar essa distinção." (grifo meu, idem, p.57)


A lucidez no decorrer do sonho deveria ser aproveitada, isto é, explorada. Ela seria um fator auxiliar no processo de auto-conhecimento, desde que o ego a utilizasse corretamente ao invés de impor ao sonho os seus caprichos.




No nível psíquico profundo, seria possível até mesmo transcender conscientemente o nível pessoal e experimentar-se como parte da mitologia dos povos ou confundir-se com a força criadora da natureza:


"Em estado transpessoal você pode ser qualquer tipo de experiência, entre ficar com o ego - a identidade- até o princípio criador. Podemos nos experienciar como seres mitológicos ou em níveis mitológicos de consciência - onde o ser humano é definido como um campo de possibilidades sem limites." (Grof, 2000, internet, grifo meu).


Haveria a possibilidade de nos experimentarmos conscientemente num nível mitológico: sermos unos com os heróis lendários e ao mesmo tempo sabermos que estamos experimentando isso. Um nível mitológico de consciência é um estado psíquico no qual somos conscientemente uma figura mitológica.Possuiríamos vários níveis conscientes em nosso interior e estes poderiam ser conhecidos particularmente pelo homem que "olha para dentro e explora a sua consciência em seus vários níveis"(Capra, 2000, p. 227). A existência de vários níveis de consciência dentro do homem e a possibilidade de acesso a eles significaria que não apenas uma modalidade de consciência, a do estado normal de vigília, seria a realmente existente em nós mas haveria outras e estas seriam conhecidas há muito tempo pelos orientais. Seus místicos "exploraram, através dos séculos, vários modos de consciência e as conclusões a que chegaram são, com frequência, radicalmente diferentes das idéias sustentadas no ocidente" (idem, p. 225).



Deste modo, o nível onírico, que corresponde às camadas mais profundas da psique, poderia apresentar funcionamentos conscientes, faculdade não exclusiva do ego vígil.



De acordo com esses estudiosos, haveria uma realidade invísivel: a do mundo imaginal. Ela estaria fora do universo consciente imediatamente acessível ao ego durante o estado normal da vigília mas poderia ser atingida fora dele, sob condições especiais nas quais o funcionamento da consciência fosse alterado.


Dados do autor para bibliografia:



Monteiro Muniz C - O Estado Não Usual da Consciência Extra-Vigil, in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, 2001, disponível em http://gballone.sites.uol.com.br/colab/cleber6.html#3


Referências bibliográficas:


· CAPRA, Fritjof. O Tao da Física: um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental.(The Tao of Physics: An Exploration of the Parallels Between Modern Physics and Eastern Mysticism). Trad. de José Fernandes Dias. Edição 19-22. São Paulo, Cultrix, 2000.


· GROF, Stanislav. Estados não usuais de consciência. Palestra e depoimento dado ao site Quiron. www.quiron.com.br/ciência.htm. Reprodução via internet em novembro de 2000.


· HARNISCH, Günter. Léxico dos Sonhos: mais de 1500 símbolos oníricos de A a Z interpretados à luz da psicologia. (Das Grosse Traumlexikon: Über 1500 traumsymbole von A bis Z psychologisch gedeutet).Trad. de Enio Paulo Gianchini. Quinta edição. Petrópolis, Vozes, 1999.


· JUNG, Carl Gustav. Memórias, Sonhos e Reflexões. (Memories,Dreams and Reflections, 1963)Trad. de Dora Ferreira da Silva. Vigésima Primeira Impressão. Editora Nova Fronteira.


· JUNG, C. G. Psicologia e Religião (Zur Psychologie westlicher und östlicher Religion: Psychologie und religion). Trad. de Pe Dom Mateus Ramalho Rocha. Segunda edição. Petrópolis, Vozes, 1984.


· SANFORD, J. A. Os Sonhos e a Cura da Alma (Dreams and Healing). Trad. de José Wilson de Andrade. Terceira edição. São Paulo, Paulus, 1988.

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