Antes de aprender a induzir sonhos lúcidos, você deve aprender a observar e controlar seus sonhos em geral. A chave é a simples auto-sugestão associada à observação sistemática. Uma excelente discussão sobre controle dos sonhos vem de Patrícia Garfield, uma psicóloga que é também uma sonhadora lúcida, em seu livro Creative Dreaming ("Sonhos Criativos"), que pode ser consultado para maiores e mais elaboradas discussões e sugestões. Aqui nós estamos lidando somente com aspectos básicos.
Após estudar muitos sistemas de controle de sonhos e usar ensinamentos provenientes de várias culturas, a Dra. Garfield sugere certos passos para aprender um controle metódico dos sonhos.
Inicie pela reavaliação de suas atitudes em relação aos seus sonhos. Você deve se convencer, seja pela auto-observação, seja por estudos acadêmicos, que seus sonhos são importantes e significativos para você e que você pode aprender com eles. Se você se lembrar de um sonho após acordar, não o ignore. Tente analisá-lo e observar as mensagens que ele traz para você. (Um excelente guia sobre esse assunto encontra-se em Montague Ullman (com Nan Zimmerman), "Working with Dreams" - NY:Delacorte, 1979). Uma vez que você percebeu a importância de seus sonhos, pode começar a experimentar influenciá-los. Se voce respeitar seus sonhos, eles responderão.
A técnica básica é sugerir a si próprio, antes de dormir, que voce irá sonhar sobre certa pessoa ou tema. Se voce praticar regularmente, notará que a sugestão começará a ser incorporada em seus devaneios. Garfiel especificamente sugere que "voce pode depositar suas intenções oníricas em uma frase, relaxe, repita-a e visualize sua realização." Uma frase tal como "esta noite eu sonharei sobre meu amigo etc etc" será suficiente. Quando voce for para a cama, em outras palavras, não caia simplesmente no sono. Prepare-se para seus sonhos.
Usando esses exercícios psicológicos, voce também verá que as recordações de sonhos também melhorarão. Isso ocorrerá mais e mais frequentemente enquanto voce começa a adquirir algum controle do conteúdo de seus sonhos. Também ajudará se voce anotar seus sonhos pela manhã. A melhor forma é permanecer deitado quando acordar; simplesmente fique em repouso e tente se lembrar oque você estava sonhando. Se você não puder lembrar-se, mude de posição. Por alguma razão isso ocasionalmente ativa sua recordação de sonhos. Então, assim que os sonhos venham à mente, escreva ou dite a um gravador de voz. Dessa forma, voce terá um registro de seus sonhos e te possibilitará a ver como seu controle está avançando. Você perceberá que as recordações de sonhos começarão a voltar espontaneamente durante o dia, normalmente ativadas por algo que você tenha visto ou ouvido que seja similar a algo que você tenha sonhado na noite anterior.
Uma vez que você tenha alcançado algum nível de controle dos sonhos, pode iniciar a indução de sonhos lúcidos. Há muitas formas de fazer isso; a mais simples é através de uma ou outra forma de auto-sugestão. Advirta-se, entretanto, que os sonhos lúcidos são mais propensos a ocorrer nas horas da manhã após você ter tido uma boa noite de sono. Assim, sua melhor chance ocorrerá ao praticar após seu despertar inicial, porém planejando voltar a dormir por algum tempo. Este fenômeno pode ser resultado da psicologia normal do sono, uma vez que a maioria das pessoas não iniciam seu primeiro período de sonho noturno antes dos 70-90 minutos após adormecerem. Nós normalmente acordamos de um estado REM (sigla em inglês para movimentos rápidos dos olhos) , retornando então a dormir para entrar novamente nesse estado. Sua sugestão para sonhar lucidamente nesse intervalo crítico pode ser mais facilmente obtida durante o acesso inicial ao sono.
As seguintes técnicas são básicas para induzir sonhos lúcidos:
1. Induzir sonhos de vôo.
Por alguma razão, os sonhadores lúcidos experimentam, quase universalmente, mais sonhos de vôo que a média dos sonhadores. As pessoas que têm muitos sonhos lúcidos frequentemente acham que eles são introduzidos por sonhos de vôo ou que a lucidez pode ser melhor alcançada durante um sonho de vôo. Pode ser simplesmente que o desafio à gravitação traga um alerta onírico ao sonhador para o fato de que ele ou ela esteja sonhando. Por essa razão, inicie dando a si mesmo a sugestão de que voce voará em seus sonhos. Quando você obter êxito, sonhos lúcidos poderão se manifestar espontaneamente.
2. Indução de stress ou pesadelos.
Quase todos já tiveram a experiência de acordar de um pesadelo particularmente feroz. Essa defesa psicológica contra o excesso de stress nos sonhos pode ser aproveitada como uma vantagem genuína. Sugira a si próprio que você terá um pesadelo ou uma aventura especialmente estressante em seus sonhos, e verá se voce pode acordar a si próprio dele. Dê a si mesmo a sugestão de que você acordará quando o sonho tornar-se tão estressante que você perceberá que está sonhando. Após ter alcançado esse objetivo, não ordene a si mesmo a acordar após tornar-se lúcido. Simplesmente deseje que seu ambiente onírico mude ou diga a quem ou ao que quer que seja que vá embora ! Isso normalmente ocorre. Algumas culturas ainda ensinam as crianças a controlar seus pesadelos dessa forma, lembrando a elas mesmas, quando vão dormir, que os sonhos não são reais e para fazer amizade com seus inimigos oníricos usando essa forma de confrontação.
3. Reconheça as incongruências em seus sonhos.
Este é provavelmente o método mais universal para aprender e controlar os sonhos lúcidos. Antes de ir dormir, dê a si mesmo a sugestão de que durante seus sonhos, voce será capaz de pesnsar analiticamente. Diga a si mesmo para notar qualquer incongruência que o alertará para a irrealidade daquilo que você está experienciando.
A maioria das pessoas tem seu primeiro sonho lúcido quando, por alguma inexplicável razão, esse momento de insight ocorre espontaneamente. Por exemplo, um de meus próprios sonhos lúcidos ocorreu na manhã após eu ter levantado, lido um pouco sobre sonhos lúcidos e caído no sono no sofá. Sonhei que estava em uma sala de jogos com um garota. Nós deixamos o local e, enquanto eu olhava em volta, a garota desapareceu em um instante. Isso me deixou perplexo, então eu voltei para o salão de jogos, apenas para ver que ele havia sido completamente redecorado. A partir dessa incongruência, percebi que eu estava sonhando. Não acordei, mas dei a mim mesmo a sugestão de continuar a dormir para que eu pudesse experimentar o meu ambiente onírico. Tive tempo suficiente para voar e deliberadamente tentar atingir um estado expandido de consciência. Finalmente, ordenei a mim mesmo para acordar.
Para captar essas incongruências, repetidas auto-sugestões são a melhor forma, embora possa levar tempo e prática consideráveis.
4. Sugira a você mesmo que os sonhos são irreais.
Para o sonhador, o mundo onírico é muito real. Quem já não acordou de um pesadelo suando frio ou rindo de algo absurdo ? É possível mudar tudo isso meramente por auto-sugestão. Mary Arnold-Forster, uma dona-de-casa britânica que é uma bem-sucedida sonhadora lúcida, explica como ela desenvolveu sua habilidade em seu livro "Studies in Dreaming". Ao longo do dia, ela começou a lembrar a si mesma que os sonhos não são reais. Isso atuou como uma auto-sugestão sobre seu inconsciente e ela começou a lembrar disso enquanto estava sonhando. Sonhar lucidamente foi o resultado natural. Normalmente, ela acordava tão logo percebesse que estava sonhando, porém com o tempo, ela se tornou capaz de controlar sua excitação, permitindo que o sonho seguisse seu curso.
5. Mantenha a consciência até o momento de entrar no sono e sugira que você observará seus sonhos com a consciência desperta.
A indução deliberada de sonho lúcido a partir do estado desperto, mais do que a partir do próprio sono, é provavelmente a técnica mais difícil, primeiramente apontada pelo místico russo P. D. Ouspensky em seu estudo clássico Um Novo Modelo de Universo.
O processo foi um desdobramento de sua fascinação pelo estado hipnagógico. Para observar esse estado tão detalhadamente quanto possível, Ouspensky praticava a retenção da atenção até o ponto em que ele verdadeiramente adormecia. Gradualmente, ele aprendeu que poderia manter a consciência mesmo após adormecer, o que o possibilitou a observar seus sonhos com a completa percepção de que se tratava de sonhos. Seu método de indução de sonhos lúcidos era, assim, observar o estado hipnagógico, prolongá-lo, e então conscientemente guiar-se para dentro do sono. Durante esse processo, ele mantinha o pensamento ou idéia fixamente em sua mente, fazendo-a aparecer subsequentemente em seu sonho.
Pela leitura dos escritos de Ouspensky, entretanto, não fica realmente claro se seus sonhos lúcidos eram genuinos ou apenas uma complicada sucessão de imaginação hipnagógica. Embora não esteja clara a diferenciação psicofisiológica entre o estado imediatamente precedente ao sono e o primeiro estágio do sono, talvez a questão seja acadêmica, especialmente tomando-se em conta que o estado hipnagógico seja ideal para induzir OBEs, como veremos brevemente.
Conforme já assinalado, induzir sonhos lúcidos bem pode inspirar a manifestação espontânea de OBEs. Se você deseja deliberadamente induzir OBEs a partir de sonhos lúcidos, entretanto, veremos em seguida três das técnicas mais comuns:
1. Quando você tiver alcançado um sonho lúcido, ordene a si próprio para retornar para os limites de seu corpo, mas lembre a si mesmo para não acordar. Nesse ponto, você normalmente se achará de volta em seu corpo. Você se encontrará, seja em um estado cataléptico ou, para seu espanto, capaz de ver seu quarto claramente, mesmo estando consciente de que seus olhos estejam fechados. Isto porque, mesmo pensando que você ainda está dormindo, poderá perceber que está desperto. Agora, simplesmente ordene a si próprio para deixar o corpo e flutuar a partir dele. Uma OBE normalmente ocorrerá.
2. Um método um pouco diferente foi sugerido por J.H.M. Whiteman, um matemático de Capetown, África do Sul, que é também um projetor habitual. Ele explica em sua autobiografia que um sonho lúcido pode ser tornar uma OBE simplesmente por meio de um exercício da mente. Quando você se achar em um sonho lúcido, tente limpar a mente. Mapeie o ambiente onírico e observe todo o processo de seus próprios pensamentos. O meio onírico desabará e você poderá encontrar-se fora do corpo.
3. Uma terceira sugestão vem de Sylvan Muldoon, que acreditava que os sonhos de vôo automaticamente significam que o sonhador (i.e., seu corpo "astral") esteja insoncientemente fora do corpo, embora a mente ainda possa estar presa no corpo físico. Muldoon sugere que um sonho lúcido de vôo seja induzido, ou você deveria iniciar o vôo em seu sonho, e então ordenar a si mesmo para despertar fora do corpo. Este era o método favorito que ele usava para as projeções noturnas.
A estranha relação entre sonhar, dormir e a viagem fora do corpo exerce um importante papel nos escritos de Mulddon. Ele ainda desenvolveu um método de projeção por meio do controle de sonhos e/ou do estado hipnagógico, que se assemelhava ao de P. D. Ouspensky:
"Por muitas noites, após você ir dormir, (muitas semanas seria melhor dizer), observe-se durante o processo de entrada no sono. Tente concentar seus pensamentos em si próprio. Pense em nada e em ninguém, exceto em você mesmo. Tente manter uma observação cerrada em você mesmo, enquanto sua consciência se turva. Tente lembrar que você está desperto, mas ainda dormindo. Você perceberá a significação disso quando você tentar - muito mais do que o percebe agora, enquanto lê.
"Apos você ter aprendido a manter a conciência brotar dentro do estado hipnagógico, até você estar realmente envolvido pelo sono, você deve ir um passo além e construir um sonho apropriado para manter na mente, enquanto começa a dormir. Lembre-se: o sonho deve ser construído, assim você estará ativo nele; mais ainda, ele deve ser construído para que a ação que você desenvolverá correesponda à rota tomada pelo fantasma quando projetado.
"O que você deseja fazer ? Nadar ? Pilotar um avião ? Viajar em um balão ? Trem ? Elevador ? Tenha certeza e faça (em seu sonho) aquilo que você "deseja" fazer. Se você eleger algo que não deseje, a sensação ficará interiorizada em você, e será desprazeirosa. Faça aquilo que lhe der uma sensação que você goste e, se você tornar-se plenamente consciente, uma vez que você esteja projetado, você gostará da sensação que obterá do fantasma flutuante no ar. Isto irá por um longo caminho em direção ao supremo êxito - ter a ação do sonho de tal natureza que você desfrute a sensação.
"Agora, vamos supor que você goste de subir em um elevador. (Esta é a fórmula que eu uso.) Você já aprendeu a manter a consciência até o momento de dormir. Deite-se de costas. Pense em você mesmo. Você está deitado de costas no chão do elevador. Você irá deitar ali quieto e dormir e, uma vez que você entra no sono, o elevador começa a se mover para cima. E você irá desfrutar a sensação de ir para cima, enquanto você deita de costas no chão do elevador.
"Agora, está vibrando um pouco, preparando-se para ir ao topo de um grande edifício. Vagarosamente, calmamente, está subindo, subindo, subindo ! Você está consciente que você está se movendo para cima. Você desfruta da sensação ao máximo. Está se aproximando do topo agora. Parou. Você está se levantando e anda para fora do elevador e dá uma volta pelo andar do edifício.
"Você dá uma olhada, enquanto anda, observando tudo. Agora você irá andar de volta para dentro do elevador e deitar-se de costas no chão. Lentamente você está se movendo para baixo, lentamente para baixo, e agora você está deitado no chão do elevador, no piso térreo do edifício.
"Eu afirmei que este foi o sonho que eu construí para o propósito de induzir o corpo astral a emergir do físico. Agora, é importante usar o mesmo sonho repetidamente; pois se você tentar primeiro um sonho e depois outro, o subconsciente não ficará afetado com a construção (do sonho) tão fortemente quanto se você repetir o mesmo, de novo e de novo, cada noite, enquanto você entra no sono.
"Ter realizado o sonho vividamente em sua mente e mantê-lo diante de si enquanto sua conciência está lentamente diminuindo; mover-se para dentro do elevador no exato momento em que "adormecimento" toma conta de você; e o corpo astral subirá no elevador; irá aprumar-se sobre o corpo, assim como você sonha em levantar-se quando o elevador alcança o último andar; ele irá mover-se para fora, assim como você sonha que está saindo do elevador. Igualmente, na volta, enquanto você anda para dentro do elevador, o (corpo) astral mover-se-á para uma posição diretamente sobre o corpo (físico); enquanto você se deita, o astral reassume a posição horizontal; enquanto o elevador desce, o corpo astral também descerá."
Após você ter aprendido a induzir e controlar com êxito sua projeção onírica, você está pronto para usá-la para induzir a efetiva separação.
Neste ponto, não parece importar se o sonho é lúcido ou não. Para induzir uma completa separação, entretanto, você deve se lembrar de despertar-se de seu sonho após ter deixado o elevador. Então, em algum momento, a lucidez deve existir no sonho. Isto deverá automaticamente induzir o estado OBE. Você deverá achar-se pairando sobre seu corpo.
Embora Muldoon realmente não sublinhe este ponto, você deverá realmente tentar fazer lúcido o sonho todo de forma que você fique envolvido ativamente nele. Isso o permitirá ter uma OBE no tempo apropriado. A técnica inteira parece representar uma forma de auto-sugestão associada com vizualização.
Todos esses exercícios podem soar difíceis de dominar, mas eles realmente não são. A única coisa que você deve fazer é praticá-los com a convicção de que eles realmente funcionarão. É mais como um treinamento de biofeedback. Psicólogos aprenderam que nós todos possuímos um certo grau de controle sobre o que pensamos ser funções psicológicas automáticas - incluindo ondas cerebrais, pulsação cardíaca, tensão elétrica da pele e temperatura corporal. A maioria das pessoas podem aprender a controlar tais funções meramente por meio de recepção feedback sobre as mesmas. Um método comum de controle das ondas cerebrais, por exemplo, é conectar um sujeito a um eletroencefalograma (EEG) linkado a um sistema de campainha. Quando o sujeito momentaneamente produz um certo rítmo de ondas cerebrais, como uma sequência de ondas alpha, a campainha começa a tocar. Este feedback possibilita ao sujeito produzir resultados desejados por tentativa e erro. O sujeito normalmente começa tentando estratégias específicas, como "desejando" ativamente ou criando certas imagens mentais para produzir as ondas. Gradualmente, entretanto, ele ou ela aprenderá que uma abordagem mais passiva é melhor. O controle biofeedback é mais exitosamente praticado simplesmente sentando-se, relaxando-se e passivamente "desejando" que uma apropriada mudança corporal tenha lugar. Esta estratégia, chamada "volição passiva", funciona para a maioria das pessoas, não importando qual tarefa de biofeedback lhes são dadas.
Traduzindo isso em termos mais práticos, parece que ficar alerta sobre suas funções mentais/corporais fornece a você um grau automático de controle sobre as mesmas.
Isso parece ser verdade para os exercícios listados acima. Você automaticamente desenvolverá algum controle sobre seus sonhos meramente pela observação deles e dando a si mesmo as auto-sugestões apropriadas. Seu inconsciente fará o resto. A razão da maioria de nós não ter qualquer controle sobre nossos sonhos é porque poucos de nós realmente prestam qualquer atenção a eles. Como a Dra. Garfield sabiamente sublinhou, a chave crítica para aprender o controle de sonhos é desenvolver uma atitude correta em direção às cirações noturnas. O resto é fácil.
Comentários
Para ilustrar a utilidade dos exercícios descritos acima, vamos ver como os grandes projetores do passado usaram os sonhos lúcidos como uma rota para a OBE. Isto também revelará como a OBE frequentemente envolve algumas relações simbióticas com este estado onírico particular.
A habilidade para sonhar lucidamente pode automaticamente causar OBEs espontâneas; isto é bem ilustrado nos relatos do Dr. Frederick Van Eeden, um médico holandês da virada do século XIX que primeiramente descreveu o fenômeno. Van Eeden começou estudando seus próprios sonhos em 1896 e manteve diários detalhados sobre eles. Este processo de observação parece ter ocasionado seus sonhos lúcidos, que começaram em 1897, e ele coletou cerca de 352. Aparentemente, ele nunca tentou induzir sonhos lúcidos, nem provavelmente percebeu que poderia fazê-lo. Ele primeiramente descobriu os sonhos lúcidos quando uma incongruência o alertou para o estado (onírico). "Eu sonhei que estava flutuando sobre uma paisagem com árvores desfolhadas, sabendo que era abril", ele explicou em uma leitura apresentada na Society for Psychical Research muitos anos mais tarde, "e notei que a perspectiva dos ramos e galhos mudavam muito naturalmente. Então eu refleti, durante o sono, que minha imaginação nunca seria capaz de inventar ou fazer uma imagem tão intrincada como os movimentos em perspectiva dos pequenos galhos parecia realizar durante a flutuação." Após perceber que era apenas um sonho, ele não acordou e então foi capaz de continuar suas observações.
Esta experiência inicial teve um peculiar efeito colateral. Van Eeden começou a ter OBEs, embora o psicológo inicialmente não percebesse o que estava acontecendo. Por acaso, seis meses após seu primeiro sonho lúcido, ele teve a seguinte experiência:
"Na noite de janeiro de 1920, eu sonhei que estava deitado no jardim atrás da vidraça. Eu estava deitado em minha cadeira e observando o cachorro muito penetrantemente. Na mesma hora, entretanto, eu sabia com absoluta certeza que estava sonhando e deitado de costas em minha cama. E então resolvi levantar-me vagarosa e cuidadosamente e observar como minha sensação de deitar em minha cadeira mudaria para a sensação de deitar-me de costas. E assim eu fiz, calma e deliberadamente, e a transição - que eu passaria a ter muitas vezes - é maravilhosa. É como sentir-se escorregando de um corpo para outro, existe uma dupla recordação dos dois corpos. Lembrei-me o que eu senti ao sonhar deitado em minha cadeira; mas voltando para minha vida diária, eu me lembrei também que meu corpo físico esteve tranquilamente deitado de costas enquanto isso. Esta observação de uma dupla memória eu a tive muitas vezes desde então. É tão fora de dúvida que isso nos leva quase inevitavelmente para a concepção de um corpo de sonho.
"Em um sonho lúcido, a sensação de ter um corpo - possuir olhos, mãos, uma boca que fala etc - é perfeitamente distinta; ainda que eu saiba ao mesmo tempo que o corpo físico esteja dormindo e esteja numa posição muito diferente. Ao levantar-se, as sensações misturam-se, quer dizer, eu me lembro tão claramente da ação do corpo de sonho como do repouso do corpo físico."
Esta experiência levou Van Eeden a perguntar-se se seu "corpo de sonho" poderia ser de algum modo "real". Ele ainda sugeriu que esse corpo e o corpo "astral" dos ocultistas seriam o mesmo - indicando estar parcialmente consciente de que ele estava literalmente fora-do-corpo. (A maioria dos sonhadores lúcidos, embora conscientes de estarem sonhando, percebem seus corpos de sonhos como seus únicos corpos reais. Um sonhador que se acha fora do corpo e consciente de que seu corpo físico esteja localizado em outro lugar está provavelmente passando por uma OBE.)
Após essa aventura, Van Eeden começou a experienciar ativamente com o corpo de sonho e com os sonhos lúcidos. Algumas vezes ele "despertaria" para encontrar seu corpo de sonho parado em seu quarto ao lado de sua esposa. Ele ainda tentou gritar a ela para ver se ele poderia acordá-la. Essas experiências foram, é claro, muito provavelmente genuínas OBEs e não sonhos lúcidos - os quais ele tinha muitos. O passatempo favorito em seus (genuínos) sonhos lúcidos era voar, encontrar pessoas que ele sabia que estavam mortas, explorar paisagens maravilhosas e envolver-se em outras aventuras. Ele também realizou pertinentes observações sobre a natureza e a fenomenologia dos sonhos lúcidos. Ele percebeu que eles normalmente ocorriam pela manhã entre às cinco e oito horas e usualmente manifestavam-se um dia ou dois após ele ter experimentado sonhos não-lúcidos de vôo. Ele também descreveu como ele ocasionalmente "se levantaria" em seu quarto, somente para ver que o quarto estava de algum modo diferente. Estranhas visões e sons manifestariam, deste modo alertando-o que ele estava de fato ainda dormindo e sonhando ! Ele ainda teria que "redespertar" a si próprio.
A maior contribuição de Van Eeden para o estudo dos sonhos foi publicado pela Society for Psychical Research em 1913. Um perspicaz estudante de pesquisas psíquicas, assim como de psicologia dos sonhos, Van Eeden esperava ao final escrever uma história mais completa de seus experimentos. Aparentemente ele nunca completou seu trabalho. Talvez em seu projetado trabalho ele teria realizado mais claramente a diferença entre seus sonhos lúcidos e suas OBEs. Lendo seus escritos hoje, entretanto, parece óbvio que ele estava tendo ambas as experiências, embora ele não percebesse a diferença entre elas. Seus registros servem melhor como uma ilustração de como as OBE existem em próxima relação com sonhos lúcidos e podem ser consideradas como um co-produto ("by-product") deles.
Patricia Garfield, cuja pesquisa sobre sonhos foi discutida anteriormente, recomenda particularmente o uso de sonhos lúcidos para divertimento e amadurecimento psicológico e espiritual. (Ou, como ela coloca, "um tipo de aprendizado que não está contido em livros de psicologia".) Ela experimentou uma dramática OBE durante o período de suas experimentações. Em sua autobiografia Pathway to Ecstasy, a Dra. Garfield descreve como ela estava descansando um dia em sua cama pronta para entrar no sono. Ela estava lendo um livro sobre OBE e decidiu levar adiante seus experimentos um passo mais longe. Ela percebeu que seu corpo estava vibrando suavemente e ouviu zumbidos em seus ouvidos. Percebendo que ela bem poderia estar em um estado pré-OBE, ela formulou o desejo a si mesma para que se suspendesse de seu corpo. Ela desceu de volta e então induziu uma segunda OBE. Dessa vez, entretanto, seu segundo "self" decolou por sua própria conta, projetando-se para fora do corpo na velocidade da luz. Garfield achou-se no vácuo e então perdeu a consciência.
A experiência teve um estranho, quase mórbido efeito sobre ela, e ela ficou apavorada. Por todo aquele dia, ela sentiiu-se como se tivesse uma outra OBE caso ela descançasse e baixasse a guarda. Finalmente, ela foi dormir de lado para inibir qualquer OBE que começasse a se manifestar.
Somente muito mais tarde, a Dra. Garfield compreendeu plenamente o que havia ocorrido com ela. "Associando minha própria experiência com sonhos lúcidos e comparando-a com os registros das experiências de outras pessoas", ela escreveu em Pathway to Ecstasy, "eu vi que eu estava a caminho de uma inevitável experiência fora-do-corpo". Ela aprendeu que as técnicas para induzir sonhos lúcidos são idênticas aos modos de literalmente liberar o "self" do corpo. Domina-se uma prática e obtém-se um bônus !
Garfield nunca ficou confortável com a perspectiva de deixar o corpo. Quando eu a encontrei pela primeira vez em São Francisco em 1979, ela admitiu que ela tinha tentado subsequentemente uma indução conciente da experiência, mas com pouco sucesso. Sem dúvida, sua reação negativa para a OBE reforçou sua "barreira de medo" pessoal, que pode tê-la bloqueado de qualquer outra exploração.
Para compreender a grande complexidade dos sonhos lúcidos e como eles se relacionam com o controle consciente da OBE, entretanto, deve-se voltar para os registros detalhados de Hugh Callaway. Ele virtualmente dominou a arte da projeção consciente através do estudo dos sonhos lúcidos.
Nós sabemos relativamente pouco sobre Callaway. Nascido em 1886, ele passou a maior parte de sua vida em Londres e finalmente tornou-se advogado. Serviu nas forças armadas britânicas por dois anos durante a Primeira Guerra Mundial e mais tarde envolveu-se bastante com o "underground" ocultista de Londres, tornando-se finalmente um teosofista. Callaway começou a experimentar OBE quando tinha apenas 16 anos, o que sem dúvida conta para seu interesse posterior pelo oculto. Seus primeiros relatos autobiográficos apareceram em 1920 no Occult Review; eles foram mais tarde ampliados tornando-se um livro escrito (como foram seus artigos) sob o pseudônimo de Oliver Fox. Esse volume, Astral Projection - a record of out-of-body experience, tornou-se um dos clássicos no campo. Callaway viveu para ver a erupção da Segunda Guerra Mundial e faleceu em 1949.
A história psíquica de Callaway começa em sua infância, mas até 1902 ele não havia tido uma experiência que instigasse seu interesse sobre sonhos lúcidos e projeção astral. Uma noite, ele estava sonhando que estava entrando em uma casa quando a bizarra configuração das pedras do meio fio prendeu sua atenção. Elas rearranjaram-se a si próprias a partir de suas posições normais. O surpreso adolescente repentinamente percebeu que ele estava sonhando. Essa revelação produziu uma alteração tão notável no nível de sua consciência que ele perdeu o controle do sonho. Ele acordou apavorado e excitado. A experiência também levou o jovem Callaway a indagar se ele poderia treinar a si próprio para tornar-se consciente durante seus sonhos e prolongar a lucidez.
Finalmente, ele descobriu uma técnica apropriada. "Antes de dormir, eu devo imprimir em minha mente o propósito de não me permitir o direito de adormecer", ele escreveu em sua autobiografia. "Deve-se manter desperto, pronto para lançar-se sobre qualquer inconsistência no sonho e reconhecê-la como tal." Houve centenas de experimentos antes que Callaway tivesse sucesso em induzir sonhos lúcidos, mas não mais tempo do que começasse a ter OBEs também. Essas projeções, que Callaway inicialmente considerou meras variações de seus sonhos lúcidos, começaram a se manifestar quando ele tentou prolongar seus sonhos. Ele estaria explorando alguns estranhos ambientes oníricos quando ele gradualmente tornaria consciente da "arrancada" de seu corpo físico. Seu ambiente onírico desbotaria e ele encontrar-se-ia paralisado em sua cama em casa.
Nos próximos três anos, Callaway sistematicamente realizou experiências com seus sonhos lúcidos e isso o levou a fazer muitas descobertas sobre a relação entre sonhos lúcidos e OBE. A primeira era sua descoberta do "falso despertar" que Van Eeden estava para descobrir e descrever poucos anos mais tarde. Callaway aprendeu que às vezes ele "despertaria" após um sonho lúcido somente para descobrir que ainda dormia. Ele reconheceria esse estado quando ele se achasse vendo claramente seu quarto enquanto simultaneamente consciente de que seus olhos estavam fechados. Não levou muito tempo para perceber que meramente por um ato de vontade, ele poderia induzir uma OBE a partir do falso despertar. Sua descoberta seguinte foi que ele às vezes despertaria de um sonhos lúcido totalmente cataléptico, um estado pré-projetivo que poderia ser facilmente utilizado para deixar o corpo à vontade.
Entretanto, por volta de 1905, Callaway não tinha certeza onde os sonhos lúcidos terminavam e a real projeção astral iniciava. Seu interesse em descobrir isso veio mais tarde naquele ano, como resultado do que parecia uma ostentação negligente. Callaway estava cortejando uma jovem chamada Elsie, que morava do outro lado da cidade. Um dia ele estava se gabando de suas projeções, quando ela, numa brilhante manifestação de superioridade sobre os homens (one-upmanship), começou a alegar possuir a mesma habilidade. Ela ainda se gabou que poderia visitá-lo naquela mesma noite - e fez essa prmessa ! Callaway ficou compreensivelmente chocado quando o espectro de Elsie apareceu em seu quarto assim que ele estava pronto para entrar no sono. Ele visitou-a no dia seguinte para relatar sua visita, mas antes que ele pudesse dizer-lhe o que havia ocorrido, a jovem mulher ofereceu-lhe uma minuciosa descrição de seu quarto - correta sobre cada detalhe !
Esse incidente encorajou Callaway a ir mais longe com as experiências sobre projeção astral. Agora determinado a descobrir os parametros da OBE como um fenômeno independente do sonho lúcido, ele queria encontrar um modo de deixar o corpo sem entrar no sono e assim sonhos de qualquer espécie não interfeririram.
A primeira experiência crítica ocorreu em Julho de 1908 quando Callaway descobriu que ele poderia livremente induzir uma catalepsia pré-projetiva. (Ele a chamou de "condição de transe"). Sua técnica era deitar-se, fechar os olhos, respirar ritmicamente até se tornar sonolento, mas reter a consciência desperta até que ele pudesse ver seu quarto através de sua pálpebras fechadas. Então ele simplesmente tinha que sugerir a si mesmo para deixar seu corpo. Uma vez fora de sua prisão física, Callaway poderia se projetar para qualquer lugar que desejasse simplesmente sugerindo a si mesmo para viajar. Às vezes ele era literalmente catapultado para fora de seu corpo, ou era conduzido como se fosse por um grande vento.
Posteriormente ele aprendeu que poderia induzir o transe projetivo deitando-se e impetuosamente virando (squinting) seus olhos para cima até que a paralisia sobreviesse. Então ele visualizaria um portal acima de sua cabeça e imaginaria a si mesmo investindo sobre ele até que ele disparasse para fora de seu corpo. A experiência era frequentemente desagradável e mais tarde Callaway abandonou o método. (Esta técnica, chamada de método "porta pineal", é recomendada em muitos livros de evolução psíquica e é derivada diretamente dos escritos de Callaway. Poucos autores que sugerem esse método parecem atentar-se que Callaway especificamente alertou que ela é muito desagradável e pode trazer repercussões negativas para o corpo).
Callaway devotou o resto de seus experimentos, de 1907 a pelo menos 1937, a explorar a natureza do mundo da OBE. Muitas de suas estranhas aventuras estão relatadas em ordem cronológica em seu livro. Ele experimentou visitar locais terrestres, viajando por grandes distâncias em instantes e ainda logrou êxito em visitar novas dimensões de realidade onde ele interagiu livremente com seus habitantes. Sua fascinação com o oculto cresceu durante aqueles anos, e seu objetivo final era usar suas OBEs para localizar um mestre espiritual não-corpóreo que pudesse ajudá-lo no caminho para a perfeição espiritual. Podemos apenas indagar se ele foi bem sucedido.
Os registros de Callaway são particularmente fascinentes pois ele mostram como a plena habilidade em controlar OBE pode ser desenvolvida pelo uso de sonhos lúcidos. Não há evidências que Callaway fosse um projetor natural. Suas separações iniciais manifestaram-se como um produto colateral de seus experimentos em controlar os sonhos e não há razão para acreditar que ele era único em sua habilidade de dominar a projeção astral dessa maneira. Ele era sábio o bastante, entretanto, para ver o potencial de suas experiências, que lhe permitiram usar seus sonhos lúcidos como um tranpolim para maiores desenvolvimentos psíquicos. Suas notas autobiográficas podem, portanto, servir como um modelo para qualquer um que deseje usar sonhos lúcidos como um passo em direção à OBE. Elas mostram como proceder, que fenomenologia esperar, como usar o que se aprendeu para maior controle consciente etc. Mas, lembre-se que Callaway levou uns cinco anos para aprender a arte. Não é realmente tanto tempo; grosseiramente equivale ao tempo que se leva para tornar-se razoavelmente proficiente em um instrumento musical.
Embora o estudante possa querer usar os métodos de Callaway como um guia em sua própria prática, não é necessário aprender o controle total do sonho lúcido para induzir a OBE. Breves momentos de lucidez podem funcionar igualmente bem para estimular suas experiências iniciais. A esse respeito, há muito o que dizer sobre o método de controle de sonhos de Muldoon. De fato, eu aprendi uma técnica muito similar a essa para induzir algumas de minhas próprias OBEs.
Como explicado no Capítulo 4, minhas primeiras separações foram aparentemente catalizadas pela minha dieta e pelo meu desejo por essa experiência. Entre 1965 e 1967, essas projeções eram claramente comuns e gradualmente eu aprendi a exercer algum controle sobre elas por uma forma rudimentar de sonho lúcido.
Um resultado de minhas OBEs iniciais foi que pela primeira vez em minha vida, eu me tornei muito consciente de meu estado hipnagógico. Eu nunca havia prestado atenção a essa imaginativa fase pré-sono, mas agora eu me encontro imerso nela. Cada noite que eu caísse no sono, eu observaria um panorama de cenas atrás de meus olhos - às vezes concisas, às vezes tão elaboradas que se parecem como se eu realmente estivesse sonhando. Quanto mais atenção eu prestasse a essas imagens, mais eu desenvolvia a capacidade de prolongar o estado hipnagógico. Uma noite eu estava muito próximo do sono, bem dentro do estado hipnagógico e imerso em um "meio sonho" no qual estava dirigindo freneticamente em uma auto-estrada. Eu estava bem consciente que estava sonhando, mas a experiência era muito realista e eu lutava para manter o controle do carro. Então ocorreu-me que nada poderia ocorrer se eu batesse. Naquele momento eu tinha um sentimento intuitivo de que se eu batesse o carro, eu deixaria o corpo. Deliberadamente, desviei para fora da estrada e comecei a cair no aterro. Senti um instantâneo e maravilhoso sentimento de alívio como se eu me encontrasse flutuando sobre meu corpo.
Nos poucos meses seguintes eu tive muitos desses "sonhos" de estar dirigindo e devaneios hipnagógicos. Eu podia frequentemente deixar o corpo pela manipulação deles. Minha teoria é que esses sonhos muito especiais foram mensagens produzidas pelo meu inconsciente quando eu entrei no estado projetivo. Bater o carro foi um método de relaxamento (releasing) o controle de minha consciência para que a OBE pudesse se manifestar. Eu nunca experimentei tentar induzir esse imaginário particular, entretanto. Os sonhos de dirigir sempre se manifestaram espontaneamente.
Como um outro curioso sub-produto da minha nova consciência, comecei a perceber certos símbolos em meus sonhos que pareciam alertar-me para os modos de sair do corpo. Eu não experimentei exatemente essas dicas como sonhos lúcidos, mas simplesmente obtinha um instante de insight durante um sonho normal de um modo a experienciar uma OBE. Esse tipo de insight normalmente vinha quando eu estava sonhando acerca de uma rampa ou buraco em que eu podia me arremessar ! Um de meus mais espantosos esforços veio durante um sonho no qual eu estava andando por um corredor de um edifício. Uma grande rampa encontrava-se na parede, ao meu lado e ainda que o sonho de fato não tenha se tornado lúcido, algum instinto disse-me para saltar para a rampa. Eu acordei completamente cataléptico e em um estado projetivo. Após algum esforço, eu era capaz de induzir uma breve OBE durante a qual pairava prazerosamente sobre meu corpo.
Essas várias experiências resultaram de uma espontânea manifestação de estratégias imaginativas do tipo que Muldoon sugeriu para as projeções conscientes de separações noturnas. É, portanto, provável que se possa aprender a deixar o corpo pelo uso de sonhos especialmente preparados ou estratégias hipnagógicas. O problema é como descobrir quais símbolos ou cenários oníricos funcionarão melhor. Muldoon descobriu, ele próprio, que cenários precisos variam de pessoa para pessoa. Minha própria opinião é que qualquer técnica ou sequencia onírica pré-preparada funcionará, desde que você forneça a si mesmo a sugestão que ela funcionará e plenamente espere por isso.
A lição aqui é que uma vez que você tenha inicialmente deixado o corpo ou simplesmente esteja praticando, sua mente começará a oferecer dicas ou sugestões sobre a melhor maneira de sair de seu corpo. Durante o período de minhas ativas experiências com viagens fora-do-corpo, eu utilizei muito pouco os métodos de indução oníricas. Mas, assim que eu abri a porta, a experiência provocou muitas alterações em minha vida onírica e hipnagógica (presleep). Essa nova consciência forneceu-me dicas para novas possibilidades e potenciais.
A questão final é óbvia. Como você sabe quando uma OBE produzida por meio de controle de sonhos é uma OBE e não apenas um sonho ?
A maioria dos praticantes experimentados podem dizer a diferença por experiência. Para eles a experiência subjetiva entre estar fora-do-corpo e simplesmente ter um sonho lúcido é tão clara como a diferença entre acordar e sonhar para a média das pessoas. S. Keith Harary gosta de explicar que suas OBEs diferem em qualidade de suas sonhos tão vividamente quanto seus sonhos de sua vigília. Não há razão para duvidar da validade central desse tipo de avaliação subjetiva. Primeiramente, entretanto, os viajantes novatos podem passar por um período duro para distinguir uma OBE de um sonho lúcido. Tanto Hugh Callaway como Frederick Van Eeden originalmente confundiram as duas experiências e consideraram-nas análogas. Um fator complicador é que como você experimenta, você pode realmente sonhar que viaja fora do corpo.
Com a prática, entretanto, você deverá ser capaz de dizer a diferença. Alguns sinais podem ajudá-lo a discriminar entre esses dois níveis de experiência mental. Celia Green, que realizou um estudo profundo sobre sonhos lúcidos, assim como sobre OBE, resumiu como se segue:
1. A OBE normalmente ocorre a partir do estado desperto ou quando se acorda de um sonho, enquanto que o sonho lúcido normalmente evolui a partir de um sonho normal.
2. O sonhador lúcido geralmente acha incongruências no ambiente onírico; o viajante fora do corpo normalmente se vê em um ambiente coerente, como se ele ou ela estivesse em um mundo real.
(Isso não é um princípio absoluto, uma vez que incongruências são conhecidas por ocorrer uma vez que se esteja fora do corpo. Por exemplo, um quarto escuro pode parecer perfeitamente iluminado. Mas o ambiente será muito mais auto-coerente que tende a ser o de um mundo onírico.)
3. Sonhadores lúcidos frequentemente incluem elementos oníricos fantásticos. A maioria das OBEs convencionais são mais mundanas.
4. OBEs são usualmente experienciadas como mais vívidas, "reais", e emocionalmente intensas que os sonhos lúcidos que, não importa quão consciente se torna, permanecem sonhos.
5. Os sonhadores lúcidos invariavelmente experienciam como possuindo um corpo, enquanto muitos viajantes-fora-do-corpo acham a si mesmos "desemcarnados" (disembodied).
Para repetir o que foi dito no início deste capítulo, outro ponto de diferença é como se experiencia enquanto se passa por um sonho lúcido. A média dos sonhadores lúcidos experienciam o corpo de sonho como sua forma única. Embora o sonhador lúcido possa levitar e voar, normalmente não há a consciência verdadeira que seu corpo físico real esteja "em algum outro lugar". Uma pessoa que passa por uma OBE normalmente está profundamente consciente de ter-se separado de seu corpo físico. Ele ou ela pensa sobre seu corpo, o que o sonhador lúcido não faz. Este sentido de estar fora de seu corpo físico, que pode estar descançando a milhas de distancia, é um atributo definitivo da OBE. Eu tive, por exemplo, muitas OBEs noturnas enquanto viajava a trabalho. Normalmente, eu repentinamente "me achava" de volta em minha casa em Los Angeles sem nenhuma consciência de realmente ter deixado o corpo. Em cada ocasião, a experiência foi acompanhada por uma reação inicial de "O que estou fazendo aqui ? Meu corpo está em New York (ou onde quer que estivesse visitando) !" Esta consciência de separação virtual do corpo sempre me alerta para meu estado fora-do-corpo e raramente ocorre durante simples sonhos lúcidos. Por essa razão, eu também penso que muitos dos "sonhos lúcidos" de Van Eeden foram de fato OBEs.
Entretanto, ao longo do caminho e com a experiência, você será capaz de dizer a diferença entre um sonho e uma OBE. Então essa questão toda parecerá acadêmica para você.
REFERENCIAS
Arnold-Forster, Mary. Studies in Dreams. London. Allen & Unwin, 1921.
Fox, Oliver (Hugh Callaway). Astral Projection. New Hyde Park, NY.: University Books, 1962 (reprint).
Garfield, Patrícia. Creative Dreaming. New York: Ramdom House, 1974.
____________. Pathway to Ecstasy. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1979.
Green, Celia. Lucid Dream. Oxford, England: Institute os Psychophysical Research, 1968.
Muldoon, Sylvan, and Carrington, Hereward. The Projection of the Astral Body. London: Rider, 1929.
Ouspensky, P.D. A New Model of the Universe. London: Routledge & Kegan Paul, 1960 (reprint).
Van Eeden, Frederick. A study of dreams. Proceedings os the Society for Psychical Research, 1913, 26, 431-61.
Whiteman, J.H.M. The Mystical Life. London: Faber & Faber, 1961.