segunda-feira, 7 de julho de 2014

A importância dos sonhos lúcidos...Parte 5


SL e o carma individual
 
Temos dito que os SL, mais do que um simples instrumento de gozo, constitui um verdadeiro exercício de resgate da liberdade.
 
O caminho espiritual não se incia com as obras – fazer o bem aos outros, salvar o mundo etc –, nem com práticas mágicas (manipulação de conceitos, imagens e sentimentos, próprios ou de terceiros, com vistas à satisfação de objetivos práticos) - mas, sobretudo, com uma busca interna, séria e atenta, do resgate da nossa própria natureza primordial, livre e ilimitada.
 
No exercício da auto-inquirição, cabe-nos identificar, antes de mais nada, qual a cruz que carregamos. Cada um de nós carrega uma “pequena” cruz individual e somente nós sabemos o peso e o tamanho dela; livrando-nos dessa parcela do carma, livramo-nos do carma todo.
 
 
Sri Nisargadatta Maharaj: Você é o Self, aqui e agora. Deixe a mente em paz, fique consciente, não se envolva e você irá perceber que permanecer alerta, mas desprendido, assistindo os acontecimentos indo e vindo, é um aspecto da sua natureza real.
 
Pergunta: Quais são os outros aspectos?

Maharaj: Os aspectos são em número infinito. Conheça um e você conhecerá todos.
 
 
É imperativo, desse modo, que a pessoa perceba qual a matriz de condicionamento interno que a impele a se mover nessa ou naquela direção (medo, raiva, falta de amor-próprio etc). Essa é a nossa cruz. É como se, internamente, fôssemos dominados por uma espécie de ansiedade – ou interrogação constante e repetitiva - , que nos leva a nos movimentar no mundo, uma espécie de busca nunca satisfeita por algo que nos falta. Essa busca incessante geralmente encontra uma única motivação principal para cada indivíduo. 
 
Por meio da auto-inquirição, podemos, de início, tocar essa lacuna interna, percebê-la operando em cada ação, gesto ou objetivo que elegemos cotidianamente. Essa lacuna torna-se ainda evidente quando nos sentimos agredidos de maneira aguda, levando-nos a reações exageradas; ou mesmo em situações cotidianas, as mais comezinhas. Ou, ainda, quando percebemos que estamos presos a algum vício, mania, obsessão, medo, raiva, pensamentos repetitivos, como por exemplo, através de memórias ou fantasias que nos remetem sempre ao mesmo aspecto. às mesmas sensações. E, claro, isso também se revela na qualidade dos sonhos. Todos esses acontecimentos são manifestações da busca pela plenitude. Como um cão que corre atrás de seu próprio rabo, a pessoa parece procurar a satisfação de um determinado elemento faltante, e isso contamina seu cotidiano. 
 
Ao identificarmos essa matriz ilusória, podemos dissolvê-la. A própria consciência, devido à sua natureza ilimitada, é a manifestação do princípio maior. O contato de nossas preocupações mesquinhas, (nossa obsessão com o ego) com o princípio maior de liberdade (a consciência) leva à dissolução daquelas. Ao dissolvê-las, obtemos serenidade e plenitude – inicia-se o resgate da liberdade, o primeiro passo para a eliminação da identificação com a mente. Isso porque todas aqueles comportamentos perdem sua motivação interna : dinheiro, poder, fama, sexo, ânsia por admiriação ou aceitação – e seus respectivos opostos – não exercerão mais o poder de sedução ou repulsa.
 
Ao atingirmos esse estado, a mente adquire uma grande estabilidade, pois até mesmo os pequenos estímulos sensoriais do cotidiano serão interpretados pela mente apenas como isso - meros estímulos sensoriais - não tendo o poder de desviar a atenção para fora de nós mesmos. Pois é comum que pequenos estímulos desviem nossa atenção, levando-nos por vezes a sensações, memórias, pensamentos etc. ainda que por frações de segundos. Por ficarmos menos reativos, emerge um sentimento de paz interior, presente de manera ininterrupta.  Seu propósito não será mais ditado pela ansiedade ou por opiniões de terceiros, família, mídia, ideologia, religiões, ambiente etc, pela simples razão de que você percebe encontrar-se muito próximo à sua meta - e executando seu propósito. Ainda que alguém diga: mas então me tornarei um inútil ? mas poderei me tornar um irresponsável ? ...mas, mas... 
 
A resposta é não: por não mais necessitar de outras opiniões, voce não mais transferirá energia a elas que não mais exercerão poder sobre suas motivações. Essas influências só encontram eco em sua mente quando você não se encontra nesse caminho. É como se voce estivesse carregando sua cruz e alguém tivesse o poder de lhe dizer: carregue-a de outro jeito; ponha essa cruz no ombro direito; carregue-a mas rápido; coitadinho, deixe que carrego junto com você; por favor, carregue a minha também etc. Essas opiniões podem até ser válidas - e somente podem encontrar ressonância dentro de você – somente enquanto voce carrega a cruz. Mas o que se propõe aqui é: livre-se dela ! Nesse caminho, somente você tem o direito de opinar. Pois somente cada um conhece sua própria cruz e pode livrar-se dela.
 
O SL participa desse processo: livre-se dos condicionamentos todos, você não precisa deles.