TRABALHO COM SONHOS
As técnicas mais fáceis que conheço para induzir EFCs envolvem projeção enquanto o corpo está adormecido ou num estado "próximo" do sono. Focalizaremos em breve métodos simples para conseguir isso. Existe, porém, algum trabalho preliminar com sonhos que, para muitos, será um requisito prévio para se tirar o máximo proveito das técnicas que serão apresentadas. Para aqueles leitores que já trabalham com sonhos, boa parte deste capítulo será uma revisão.
Os sonhos são, muito simplesmente, uma porta natural para as dimensões interiores do nosso ser. No estado onírico, viajamos todas as noites para níveis fundos onde bebemos da fonte "da energia e do conhecimento, a qual sustenta permanentemente a nossa identidade eterna e em constante crescimento. Recordamos usualmente pouco dessas excursões mais profundas porque elas alcançam dimensões da experiência que são muito diferentes do mundo físico que conhecemos tão bem. Por vezes, os sonhos que recordamos são as nossas próprias tentativas para traduzir essa sabedoria mais profunda para um plano físico que possamos compreender.
Acredito que, no mundo onírico, visitamos com freqüência o passado e o futuro. Comunicamo-nos com outras partes dos nossos seres. Comunicamo-nos com os "eus" reencarnacionais, comparando impressões, trocando informações e deslocando-nos através do tempo com a mesma facilidade com que os nossos corpos físicos respiram. Recebemos instrução dos nossos "eus" interiores, os maiores "eus" dos quais somos uma parte. E na medida em que temos acesso a tal informação, podemos facilitar a transferência e a incorporação desse saber às nossas vidas físicas.
Os sonhos podem ser usados para muitos fins, incluindo a solução de problemas, o exame de crenças, a aquisição de entendimento sobre situações da vida corrente, promovendo a saúde e a cura, entrando em contato com emoções reprimidas, e muito mais. Entretanto, para auferir todas as vantagens desse recurso, é importante dar aos nossos sonhos a atenção que eles merecem.
Acredito que os nossos eus oníricos são exatamente tão válidos quanto os nossos eus físicos. Eles são uma parcela de nós próprios. O eu sonhante e o eu fisicamente orientado são partes da nossa identidade maior - uma identidade que habita em muitas dimensões. O eu sonhante e o eu vígil estão intimamente relacionados. Fazem parte de um continuum do ser e não estão realmente separados. São o mesmo Eu, duas faces da mesma moeda mas existindo em dimensões diferentes.
Segue-se a descrição de uma experiência fora-do¬corpo que eu tive, na qual parecia como se eu me fundisse com alguma das outras parte do meu ser:
Vi-me sentado a uma mesa numa sala que não reconheci. Na mesa havia muitas pessoas, inclusive eu próprio. Eu estava completamente acordado e sabia estar fora do meu corpo físico. Estava fascinado por ver como tudo parecia totalmente real. Essa sala era percebida como tão real quanto qualquer outra onde eu tivesse até hoje estado. Eu era eu mesmo e sabia que era eu mesmo; e, no entanto, eu era algo mais, de um certo modo. Senti-me como se estivesse fundido com um outro e mais vasto aspecto do meu eu. Comecei discutindo com as pessoas da mesa sobre a parcela de mim mesmo que habitava a realidade física normal. A discussão gravitou em tomo do comportamento e características do meu eu físico. O eu com que me fundira nesse estado parecia ter acesso a uma perspectiva mais esclarecida e sagaz do que aquele que eu normalmente possuía. Parecia saber uma grande quantidade de coisas que eu ignorava; mas agora, que estávamos juntos, alguns dos seus conhecimentos pareciam-me acessíveis. Eu não estava separado desse eu. Esse eu era eu. Era deveras estranho estar sentado a uma mesa não-física que eu sentia ser tão física e sólida quanto qualquer outra na Terra e ouvir-me descrevendo e analisando calmamente o meu eu físico normal com um nível de discernimento que parecia exceder facilmente aquele a que eu estava habituado.
Acredito que na experiência acima fundi-me com o meu eu onírico; que esse eu está bem vivo e alerta, vivendo em dimensões válidas da experiência que todos visitamos noite após noite; que a sua existência e experiência continuam, mesmo quando estam os despertos no mundo físico normal. Com um pouco de prática, podemos aprender a levar a nossa consciência vígil conosco para o estado de sono e assim fundi-la com o nosso "eu onírico", aumentando o fluxo de informação entre os mundos interior e exterior.
O mundo dos nossos sonhos é freqüentemente considerado uma criação de nossa imaginação. Mas, muito pelo contrário, é um caminho de superlativa importância - um caminho que se destina a ser por nós usado para descobrir as dimensões plenas de nossas próprias identidades. É uma estrada que leva às incontáveis dimensões da realidade que algum dia será o nosso permanente campo de atividade lúdica.
Os sonhos fornecem ao eu desperto inestimáveis informações que utilizamos com freqüência, quer recordemos ou não o que sonhamos. A informação pode aparecer em qualquer ponto do dia como uma intuição ou insight. Além disso, o estado onírico faz parte do mecanismo pelo qual criamos as nossas vidas. É aí que as tremendas interconexões e logísticas são elaboradas, o que nos habilita a inserir eventos específicos em nossas vidas de acordo com as nossas crenças e em harmonia com as muitas outras pessoas cujas realidades possuem fronteiras comuns.
Se o nosso foco do dia-a-dia é pusilânime ou negativo, o mais provável é que os nossos sonhos reflitam esse tema. Os indivíduos que se vêem nessa situação podem beneficiar-se imenso se reestruturarem seus padrões de pensamento a fim de mudar a tônica de seus dias físicos, assim como de seus sonhos.
Os sonhos podem ajudar-nos às vezes a sair de depressões comunicando-nos conhecimentos oriundos de um nível emocional profundo. Eis um exemplo, extraído dos meus diários, de um sonho que tive há uns 12 anos, quando estava sentindo-me deprimido:
No sonho, eu sentia-me deprimido a respeito de minha vida e trabalho. Estava assistindo a uma representação teatral. O enredo pretendia expressar duas atitudes ou modos diferentes de conduta. A primeira atitude expressada envolvia um homem que se queixava a respeito de tudo. Achava que sua vida e seu trabalho eram um pesado fardo. A segunda atitude, ou modo, de atuação era expressa por um homem cantando uma canção extremamente exuberante. A canção era sobre um homem que amava totalmente a vida. Amava o trabalho. A canção continuava para dizer que todo o novo ofício ou aprendizado era uma grande e jubilosa experiência. E então o cantor começou interatuando com o gigantesco público que assistia à representação. Ele entoou as palavras "E Deus teve o Seu dia" , e o público todo repetiu "E Deus teve o Seu dia". Depois de duas ou três vezes, ele cantou "E eu tive o meu". A canção era de uma beleza e de uma força extraordinárias. O último verso dizia "Trate-se a si mesmo com o respeito que merece" . Eu chorava de emoção.
Quando acordei, o meu estado de espírito tinha mudado por completo. O sonho comunicara-me efetivamente, num nível intuitivo, que cada dia da vida de toda e qualquer pessoa é único, precioso e magnífico. Ter muitos sonhos como esse pode mudar literalmente o rumo de nossas vidas. Entretanto, se não se lembra nem registra esses sonhos, a pessoa diminui sua capacidade para extrair deles o máximo proveito.
O fluxo de informação entre os eus interno e externo pode ser consideravelmente intensificado por uma tentativa deliberada de trabalhar com sonhos. Além disso, trabalhar com sonhos leva diretamente a habilidades que facilitam a indução de experiências fora-do-corpo. Eis, em linhas gerais, como proceder. Em primeiro lugar, desenvolver o hábito de recordar e interpretar os seus sonhos. Depois, experimentar alguma forma de controle dos seus sonhos. Isso prepara o cenário para o sonho lúcido (a atividade onírica. em que a pessoa percebe estar num sonho) e para o uso efetivo das técnicas de indução de EFDCs. Não existem regras estritas, de modo que cada um deve optar pela técnica que melhor lhe convenha e de acordo com o seu próprio ritmo. Começará com o programa para trabalhar com sonhos.
(...)
O ESPECTRO DA CONSCIÊNCIA:
EXPERIÊNCIAS FORA-DO-CORPO E SONHOS LÚCIDOS
Há uma forte conexão entre sonhos e EFCs. Para se entender essa conexão, é útil pensar nos vários estados de consciência que os seres humanos experimentam como sendo uma espécie de contínuo.
Numa extremidade do contínuo estão sonhos como aqueles que você pode surpreender-se criando rapidamente, instantes antes de acordar. Como foi mencionado há pouco, acredito que nesse tipo de sonho tentamos traduzir conhecimentos adquiridos na realidade não-física em termos físicos, de modo que possamos trazê-las de volta à nossa consciência vígil normal. Essa espécie de sonho é, em certos aspectos, semelhante ao que poderíamos usualmente designar como imaginação. Isso não significa, porém, que tal experiência não tem realidade.
Repito ser minha convicção de que o mundo onírico é uma porta natural para os mundos desconhecidos donde viemos e para os quais estaremos voltando em breve. Podemos, às vezes, encontrar-nos em paisagens oníricas com muitos elementos imaginários. Em outros sonhos, entretanto acredito viajarmos para dimensões da existência tão reais quanto mundo físico, que usualmente temos por ponto pacífico ser único mundo. Isso tampouco significa que os sonhos com elementos imaginários ou que variam constantemente não tenham qualquer validade, pois têm.
Poderíamos afirmar que diferentes tipos de sonhos possuem graus variáveis de realidade - literalmente diferentes gradações de matéria e energia.
Podemos considerar um sonho lúcido um "grau superior" de um sonho típico, um passo mais adiante no contínuo. Um sonho lúcido é aquele em que o sonhante percebe estar sonhando. Esse tipo de sonho é, com freqüência muito intenso e vívido. Uma diferença interessante entre 'sonhos normais e sonhos lúcidos é que, nestes últimos, a paisagem onírica parece tornar-se mais coerente e menos irreal assim que o sonhante atinge a lucidez.
A medida que nos deslocamos ao longo do nosso contínuo hipotético, chegamos às experiências fora-do-corpo. Esse estado de consciência pode ser dividido, grosso modo, em EFCs que têm lugar no mundo físico e as que ocorrem em mundos não-físicos. As EFCs que ocorrem em mundos não-físicos podem ser consideradas um grau superior dos sonhos lúcidos.
Para fins de definição, a principal diferença entre uma EFC em mundos não-físicos e um sonho lúcido, de um modo geral, parece residir na percepção subjetiva do indivíduo. O sonhante lúcido pensa que está num sonho e que o que está vivenciando é imaginário. Não está cônscio ou não se preocupa no que diz respeito ao paradeiro de seu corpo físico. Entretanto, o indivíduo que passa por uma experiência fora-do-corpo está profundamente cônscio de que se encontra fora de seu corpo físico, sabe onde seu corpo físico está e pensa que o que está experimentando é real.
Acredito que, na grande maioria dos casos, o sonhante lúcido já está baseado fora do corpo e simplesmente não se apercebe disso. Por outras palavras, a maior parte dos sonhos lúcidos são uma forma de EFC. A bem dizer, acredito que deixamos os nossos corpos todas as noites durante o sono, quer recordemos ou não qualquer tipo de sonho.
O sonho lúcido tem sido, historicamente, um caminho efetivo para a viagem astral. Muitos que aprenderam como deixar seus corpos começaram por aprender como induzir sonhos lúcidos. Converter um sonho lúcido numa EFC parecer ser, basicamente, uma questão de perceber que o seu corpo físico está dormindo em algum outro lugar e que você está separado dele.
Penso que, na realidade, é sobre os graus variáveis de percepção dos diferentes estados de consciência que estamos falando. Como sugerimos no Capítulo 1, a própria EFC pode flutuar em seu grau de exteriorização. Alguns sonhos lúcidos podem começar com sua base de conscientização parcialmente no corpo e parcialmente fora dele, e o grau de exteriorização pode recrudescer à medida que a experiência prossegue e você se concentra mais intensamente no meio ambiente interno. Quando você percebe que está sonhando e também se dá conta de que está fora do seu corpo, esta úlima percepção eleva ainda mais o seu estado de conscienti.zação de todo o processo em que está envolvido. Isso será mais ou menos equivalente a outras formas da EFC, como flutuar para fora do seu corpo físico no seu quarto de dormir e testemunhar conscientemente a separação. De fato, podese utilizar o sonho lúcido como um ponto de lançamento do qual regressar ao corpo físico e depois flutuar fora dele no seu quarto de dormir, se estiver propenso a isso. Essa técnica é descrita no Capítulo 10. Não que você queira necessariamente ir correndo de volta para o físico, de qualquer modo. Na maioria dos sonhos lúcidos, sua consciência já transferiu sua base de operações para os mundos interiores. Algumas das mais excitantes e educativas excursões fora do corpo têm lugar na realidade não-física.
De um modo geral, as EFCs são mais coerentes do que os sonhos lúcidos. Em certos aspectos, as EFCs que ocorrem na realidade física podem parecer francamente "ordinárias". Uma vez fora do seu corpo, você poderá explorar seu lar ou seu bairro, observar que tudo realmente é muito parecido - a não ser pelo fato de que você pode estar voando ou caminhando através de paredes. Mesmo as EFCs nos mundos interiores parecem, em geral, mais coerentes e menos irreais do que os sonhos lúcidos. Acredito que isso se deve ao estado especial de conhecimento alcançado na experiência fora-do-corpo. Considera-se que os mundos interiores são receptivos. Portanto, quando você percebe que está fora do seu corpo e vivenciando uma realidade válida , essa percepção consente-lhe, em si mesma, compreender (e criar) com maior clareza.
Em seu livro Journeys Qut ofthe Body, Robert Monroe chama Locale II a essas dimensões interiores. Postulou ele que Locale II é um "meio ambiente não-material com leis de movimento e de matéria só remotamente relacionadas com o mundo físico' . E prossegue dizendo que esses locais são habitados por seres inteligentes, e que Locale II é "o ambiente natural do Segundo Corpo" (em outras palavras a forma não-física usada em EFCs). Uma vez que Locale II é para onde o segundo corpo quer "naturalmente" ir, ele para al será conduzldo, ou do contrário aí permanecerá uma boa parte do tempo. Em minha experiência pessoal observei uma tendência análoga. Mesmo que começasse por alçar-me do meu corpo no meu quarto e explorasse o meu ambiente físico imediato, era freqüente terminar em mundos não-físicos antes do final da experiência.
Penso ser basicamente irrelevante se você se levanta ou não do seu corpo no seu quarto e depois viaja para Locale lI, ou se, em vez disso, torna-se simplesmente lúcido no estado onírico e depois se apercebe de que está fora do seu corpo. Ambas as experiências são edificantes e, portanto, merecem ser vividas. Praticaremos técnicas que abrangem ambasessas formas de EFC no Capítulo 10. Aqueles que têm dificuldade em admitir o conceito de outros mundos, poderão querer começar por concentrar-se em EFCs nas quais se mantêm apegados à realidade física e tentam obter alguma espécie de evidência de que estão fora do corpo.
Neste ponto, o que algumas pessoas parecem perder de vista é o poderoso efeito de sistemas de crenças fundamentais sobre as experiências na realidade não-física. Se você tem uma forte orientação no sentido de acreditar que o mundo físico é o único que deve ser seriamente considerado ou pensado como "real" , essa crença impregnará a sua experiência num sonho lúcido ou numa EFC. A realidade não-física é extremamente receptiva ao pensamento. Rígidos pressupostos podem literalmente bloquear um indivíduo para as experiências intuitivas, de conhecimento direto, acerca da validade dessas dimensões não-físicas.
Algumas pessoas afirmam que a EFC é, simplesmente, uma forma de sonho lúcido. E o sonho lúcido é, em geral, considerado justamente isso - um sonho - ou seja, uma experiência que não tem realidade objetiva e existe apenas na mente do sonhante. Rejeitar as EFCs como sendo apenas uma outra forma de sonho é um modo simples e confortável de permanecer dentro dos limites dos pressupostos materialistas que ainda predominam em nossa cultura. É muito mais aceitável dizer aos amigos e colegas que sonhou certa vez ter voado para o apartamento de alguém do que declarar que deixou realmente seu corpo (ainda que possa corroborar sua experiência com o fato de que, durante a sua excursão, viu algo que pôde mais tarde verificarl). A realidade da experiência fora-do-corpo é um conceito capaz de abalar os próprios alicerces de crenças há muito acalentadas. É muitíssimo mais fácil dizer que as EFCs são irreais e apenas uma outra forma de sonho. Não obstante, as EFCs são reais e já vimos algum apoio científico para esse conceito (no Capítulo 1).
Não há muita concordância quanto ao modo como definir precisamente uma experiência fora-do-corpo. Algumas pessoas consideram uma EFC uma experiência em que uma pessoa percebe o mundo físico desde um ponto de vista fora do corpo físico. Isso incluiria as EFCs em que o indivíduo testemunha a separação do corpo e é capaz de ver seu corpo físico do ponto de vista de seu corpo "astral". Outros definem a EFC como qualquer experiência em que o indivíduo sente que sua mente ou ponto de consciência está fora do seu corpo físico, quer ele esteja percebendo o mundo físico ou alguma outra dimensão da experiência. Isso incluiria as EFCs que são iniciadas a partir do estado onírico e nas quais o indivíduo pode viajar para mundos interiores (' 'oníricos' ') válidos.
Para esclarecer, podemos identificar diversas formas de experiências fora-do-corpo:
1. Ver-se conscientemente flutuando fora do seu corpo físico e permanecendo no universo físico.
2. Ver-se conscientemente flutuando fora do seu corpo físico e viajando em seguida para outras dimensões da experiência.
3. Encontrar-se fora-do-corpo sem ter presenciado a separação do seu corpo físico.
4. Perceber que está num sonho e depois dar-se conta de que está fora do seu corpo.
5. Perceber simplesmente que está num sonho (neste caso, o mais provável é que já se encontre fora do seu corpo, embora não o saiba).
Eis uma interessante questão a considerar aqui: Onde se situa a consciência vígil normal no nosso hipotético contínuo? Na realidade, esse é um ponto discutível mas, em todo o caso, gostaria de mencionar que, de certa maneira, aEFC pode oferecer um quadro mais completo da nossa verdadeira identidade do que a consciência vígil normal. Embora a nossa consciência cotidiana pareça bastante coerente, ela está freqüentem ente associada a um entendimento limitado do contexto maior em que existimos. A realidade física que percebemos durante o nosso estado vígil normal poderia, pois, ser até concebida como um sonho em que nos concentramos com excessiva intensidade.
Pode-se argumentar que a EFC inclui freqüentemente uma compreensão intuitiva de que a existência não é dependente do corpo físico e poderia, por conseguinte, ser considerada um grau superior do nosso estado vígil normal. É claro, esse conhecimento - e alguns outros que, aparentemente, são mais acessíveis durante uma EFC - também pode ser obtido durante a consciência vígil normal, pelo que seria inexato dizer que é intrínseco nas EFCs apenas. Além disso, como foi mencionado antes, algumas pessoas sufocam o potencial do estado EFDC com pressuposições rígidas. Finalmente, todos os vários estados de conscientização que consideramos são divisões artificiais efetuadas apenas a bem da clareza. O eu sonhante, o eu vígil, o eu EFC, o eu interior e a alma são todos uma só coisa, e todas as tentativas para encaixá-los em categorias estritas acabarão fracassando. Digamos apenas que a posição relativa da consciência vígil normal em nosso contínuo hipotético depende do ponto de vista de cada um.
Nada disso significa que as pessoas, por vezes, não tenham alucinações enquanto fora-do-corpo; elas têm. Muitas pessoas têm visto objetos, cenários e mesmo os seus próprios corpos enquanto têm EFCs, só mais tarde descobrindo que suas visões continham poucos ou muitos elementos imaginários. Por outro lado, numerosas pessoas têm relatado EFCs em que puderam descrever com exatidão cenas e eventos físicos que não tinham a menor possibilidade de ser percebidos desde o ponto onde seus corpos físicos se encontravam, com o uso exclusivo de seus sentidos físicos. Pode-se influenciar o grau de elementos alucinatórios que são encontrados enquanto fora-de-corpo solicitando ou ordenando que todas as alucinações desapareçam. É evidente que esse tipo de aptidão, assim como outros que requerem um delicado ajuste, só pode ser aperfeiçoado através da prática.
Em nossa cultura, temos sido treinados para considerar o intelecto a nossa única voz idônea. Bloqueamos o conhecimento intuitivo que é nosso direito inato. Aprendemos a questionar sempre intelectualmente a sabedoria que já possuímos em níveis mais profundos. Aprender a confiar em nosso próprio conhecimento interior e a escutar a nossa intuição é um importante passo em nosso crescimento espiritual. Se confiarmos realmente em nossa intuição e em nossos sentimentos, acabaremos por "saber", pura e simplesmente, que na grande maioria dos nossos sonhos lúcidos já estamos fora do corpo físico. Usando esta teoria como hipótese de trabalho, o leitor estará apto a induzir mais facilmente EFCs a partir do estado onírico e a abrir-se para experiências e conhecimentos que, caso contrário, poderão ser bloqueados.
A verdadeira arte de sair do seu corpo envolve a aprendizagem de como operar efetivamente onde quer que vá, seja flutuando em redor de sua cama ou viajando na realidade interior. Há toda uma série de diferentes graus de consciência que você pode experimentar enquanto fora do seu corpo. De um modo geral, poderá melhorar o seu grau de clareza cons¬ciente através da prática.
(Trechos dos capítulos 8 e 9 do livro de Rick Stack, "Viagem Astral - As Aventuras Fora do Corpo")