O Sonho do Adormecido
Quando sonha, o adormecido vê coisas que lhe dão prazer, raiva, tristeza e alegria – cenas de riqueza, nobreza, fama e proveito. O sonhador toma essas cenas por reais e não sabe que as está sonhando.
O que percebo quando observo isso é o Tao da profundidade do poder prático no cultivo da realidade.
A mente das pessoas é enganada pelas energias do álcool, da sexualidade e das posses; sua natureza é obscurecida pelas emoções e pelos desejos artificiais por dentro e por fora, elas perdem por completo o sentido da realidade. Se tiver alguma impureza que não consegue dissolver, quem cultiva a realidade não consegue atingir por completo o grande Tao, mesmo que ele esteja à vista.
Isso ocorre porque a raiz do problema ainda não foi inteiramente extraída. Como podemos verificá-lo? Podemos verificá-lo nos sonhos. Se, quando as pessoas sonham, as energias do álcool, da sexualidade e das posses não puderem influenciá-las, nem as emoções e os desejos se apegar a elas, e se elas forem imperturbáveis e inabaláveis, puras e claras, perfeitamente lúcidas, não confundidas por coisas artificiais, só então estarão vendo a realidade.
Se as pessoas se dedicarem, a partir daí, a um trabalho ainda mais profundo, de maneira que nada mais sonhem, a raiz do problema terá sido inteiramente extraída. Se elas ainda sonharem, estará provada a existência de percepções sensoriais ainda não descartadas.
Por conseguinte, diz-se que as pessoas perfeitas não têm sonhos. Naqueles que não têm sonhos, o poder da prática se consumou. Naqueles que têm sonhos, o poder da prática ainda não está consumado.
Se a pessoa tiver sonhos, mas, enquanto sonhar, souber que sonha, o poder da prática terá avançado. Se tiver sonhos e, enquanto sonhar, não souber que sonha, o poder da prática será nulo.
Se puder alcançar de fato a consumação do poder da prática, de modo a não ter nenhum sonho, a Criação estará nas suas mãos. Mesmo que a pessoa durma, será como se estivesse acordada. Mesmo morta, ainda estará viva. Isso porque o que morre é o corpo material, enquanto o que vive é o corpo espiritual. O que dorme são os olhos e os ouvidos, e que fica acordado é o espírito original.
Do livro “O DESPERTAR PARA O TAO” de Liu I-ming
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