sexta-feira, 25 de setembro de 2009

1ª Experiência de Sonho Lúcido


É com grande alegria que transcrevo abaixo a descrição de uma primeira experiência de Sonho Lúcido, vivida pelo meu amigo, Márcio Alexandre. Sem maiores delongas, gostaria apenas de dizer que, para uma primeira experiência dese tipo, ele já surpreende, não apenas pela duração do sonho, como também pelo grau de lucidez, pela itensidade da experiência em si e, sobretudo, pela articulação com as experiências de meditação e vigília em geral.

Aqui vai sua descrição e seus comentários:


Nesta madrugada de quinta-feira, 24 de setembro de 2009, tive meu primeiro sonho lúcido, talvez desde a infância.

Em conversas sobre sonhos lúcidos com este grande amigo que posta este relato, há alguns meses atrás, decidi me determinar a seguir suas orientações, relaxando/concentrando a mente na hora em que fechasse os olhos. E assim o fiz, noites após noites, seguidamente.

O fato é que após um tempo, comecei a lembrar dos sonhos, o que não acontecia em outras épocas, porém de modo muito fragmentado. Sonhei com professores de prática como Chagdud Tulku Rinpoche e Namkhai Norbu Rinpoche, sonhos que talvez revelavam meus apegos e ilusões não dissolvidas como, por exemplo, o fato de ser constantemente reconvocado para servir o exército. Exército, para mim, significou prisão da expressão do corpo e da mente durante os meus 18 anos, considerando ainda que estudei no meio estudantil em que era frequentemente invadido por informações de pessoas conhecidas que haviam sido torturadas e mortas em decorrência do regime militar.

No último encontro que tivemos, fui recomendado a aproveitar sonhos padrões, os que se repetiam com certa constância, a me ater neles antes de dormir. Comentei sobre o caso do exército e ele disse: - “Ótimo, do que a gente não gosta é melhor ainda para provocar sonhos lúcidos!” E assim, só de conversarmos e tornar o acontecimento onírico consciente, voltei a sonhar na mesma noite sobre o tema. Até aqui, nada de sonho lúcido.

Outra orientação foi a de proceder como em uma lógica de programação (minha interpretação), ou seja, variável sonho ser igual a um absurdo em nosso dia-a-dia. E assim mentalizei que em todo absurdo que aparecesse em minha mente, diria para mim mesmo: - “Isto é um sonho!”; a chave para o despertar.

O Sonho Lúcido

Antes de começar a dormir, posso citar alguns fatos que se destacaram na mente: senti-me profundamente agradecido por ler da página 315 a 320 do livro “Eu Sou Aquilo”, de Sri Nisargadatta Maharaj, tanto que me reverenciei ao conteúdo do mesmo. Este trecho me fez entrar em estado meditativo espontâneo, o que tem ocorrido com freqüência em outras situações também. Uma enorme sensação de bem-estar tomou conta do ser. A seguir, virei o livro e fixei o olhar no olhar da foto desperta de Sri Nisargadatta Maharaj por alguns segundos. Fechei os olhos até ela se dissolver. E fiz a sadhana diária de meditação Dzogchen.

À noite, na prática de Yoga (iyengar & hatha yoga), no savasana, em relaxamento profundo, fixei-me na afirmação “Eu sou”, tendo feito isso em sessões anteriores, inclusive no samkalpa.

Na hora de dormir, nada de especial foi feito a não ser o método recomendado mencionado acima. Pela madrugada, tive um sonho que recordei de algumas imagens fragmentadas; vi-me imerso a histórias como pessoas que estavam doentes, dessas doenças sem curas, e eu sentindo compaixão por elas, no meio delas, compartilhando dessa dor, até que... De repente, surge minha imagem sendo transportada para uma porção de areia com a imagem de outras pessoas reunidas e ondas em sequência prontas para nos atingir de um lado. Quis preservar documentos que ali estavam sobre uma espécie de mesa ou altar de igreja. As ondas não eram ameaçadoras quando aconteciam na fase de criança, período em que tinha uma sequência deste tipo de sonho e que me libertei dela na noite em que decidi, sem medo, deixar a onda me acertar. A onda me acertou, não me fez um dano e nunca mais havia sonhado desde então. Um parêntese é que reavivei a memória comentando deste episódio em nossas conversas de sonhos. Voltando às ondas, eram ondas menores, mas que certamente nos molhariam, estragariam documentos que estava tentando preservar e provavelmente nos levariam para algum lugar. Olhei para outro lado e vinha ondas nos mesmos formatos, cores, texturas e tamanhos. Para outro, também. Neste instante, me veio à mente a conversa que tivemos sobre ondas grandes tentando me pegar na infância e a redenção sobre elas. Aqui, levanto a hipótese de que talvez o fato de sonhar com este padrão, trazido para o consciente durante a vigília e devidamente observado, funcionou como palavra-chave ou senha para me despertar. Pois, assim que me lembrei desta relação onda = sonho de criança = não me machuca, pensei: - “Isso só pode ser sacanagem! Isso é um absurdo, como pode vir onda de tudo quanto é lado? Não, isso é um sonho!” E despertei. Imediatam ente quando ocorreu o fenômeno, disse para mim: - “Agora vou me divertir...” Quando na vigília, penso em usar o sonho lúcido para esgotar tudo que puder criar e descriar nele e observar até vai meus apegos aos desejos, ilusões e medos. Foi um barato ver as imagens se construindo e desfazendo. Logo estava num imenso salão de um castelo medieval. Quando me vi, era do alto (que só aumentava cada vez que olhava a altura – observei se era a altura que aumentava ou o medo que tinha de me jogar nela). Em seguida, fiquei com receio de pular e me machucar, então pensei: - “Isto é um sonho. Quero voar.” Então do saguão testei se voaria mesmo, alcei vôo e aí me joguei daquela altura, controlando o vôo para onde queria ir dentro daquele recinto absurdamente alto. Lá embaixo, pessoas e objetos eram quase do tamanho de uma formiga (talvez, um pouco maiores). Contornei lustres suntuosos acesos repletos de cristais, olhando todo o cenário, repleto de detalhes de arquitetura. As pessoas e objetos estavam parados como se estivessem em animação suspensa.

Lembrei que houve uma interação de sonhos, pois haviam me comentado que era legal experimentar comer vidro. Então, decidi morder um vidro de perfume que minha esposa havia ganho de minha mãe (“Luzes dos teus olhos”, Avon). Quis testar a irrealidade do sonho. Dei uma mordida tímida e fiquei com receio de quebrar os dentes. Parecia que os meus dentes da frente ficaram dormentes, ou melhor, como se não sentisse eles. Pensei: - “Vou espatifar meus dentes com um objeto tão duro!” E imediatamente conclui: “Lembre-se que estou sonhando!” Assim, dei uma daquelas mordidas, ficando com a marca dos dentes no vidro, como em desenho animado, sem o líquido vazar.

Depois fiquei pensando: - “o que mais vou inventar...” O que mais experimentar? Mas aí fiquei sem imaginação. E então, fui saindo do sonho de imagens, a tela ficou escura e entrei num estado de pura escuridão em que meus sentidos estavam alertas. Perguntei-me rapidamente: - “o que está acontecendo? O que estou fazendo aqui? O que é isso aqui?” Nada acontecia nesta fração de sensações, a não ser meus sentidos estavam “ligados”. Então, achei que aquilo não era nada e resolvi acordar. Acordei em estado de êxtase, bem-estar incomensurável, uma sensação de prazer muito grande.

Em relação ao estado de vigília, posso relatar alguns sinais que procuro não dar atenção alguma, considerando que não são os sinais que me interessam mas sim o ir além, reduzindo o grau de apego e desejo mundano, mas que compartilho com vocês: momentos em que espontaneamente se expressa um estado meditativo, seja ao ler o livro do Maharaj, andando, praticando asana, cozinhando...; sensação de expansão do cérebro com a testa se desfranzindo, ficando bem lisa; vibrações internas pelo corpo, pulsações em diversas partes do corpo ocorrendo intensamente (tem horas que parece que não vou me agüentar de tanto que partes do corpo tremem), sons ouvidos em silêncio profundo como se estivesse uma bomba d´água, um motor ligado funcionando a todo vapor. Então é isto, meus amigos, a pedidos, resolvi compartilhar com vocês as experiência que tenho tido. Considero o meio muito interessante para crescermos juntos em vivência, na direção do revelar do estado natural supremo, do amor.

5 comentários:

jholland disse...

Só agora relendo a descrição, vi que voce escreveu que os personagens ficaram em "animação suspensa". É mais uma descrição, dentre outras, que revela o efeito "quebra de encanto": minhas primeiras experiências de sonhos lúcidos também surtiam esse efeito. Tão logo descobria estar sonhando, os personagens oníricos ficavam nesse estado. Depois, issodeixou de ocorrer e hoje a interação é mais completa.

Maria José Speglich disse...

Tenho uns sonhos estranhos, porém, acredito que isso é desintoxicação do subconsciente.

jholland disse...

Olá, Maria, já faz um tempinho que vc não aparecia...

É só uma questão de tipo de atividade mental que vc está acostumada a exercitar durante o dia (e a noite).

Ou seja, conforme o tipo de interação que voce estabelece com voce mesma, assim como o nível de concentração-percepção, os sonhos tendem a dizer-nos isso ou aquilo.

É como se fosse tudo uma coisa só (vigíla e sonho).

Os sonhos refletem o tipo de interação que temos com o momento presente.

Não há uma diferença muito grande com a vigília.

Normalmente (ordinariamente) estamos todo o tempo perdidos em pensamentos/divagações/imaginações/cogitações. Isso se reflete nos sonhos.

Conforme nos dedicamos a perceber esse processo - mediante uma observação relaxada e concentrada - os sonhos tendem a mudar de qualidade.

Bjs

Reginaldo disse...

Eu também já realizei muitas experiências em sonhos. Devo ter tido dezenas de sonhos lúcidos em minha vida.
Dentre as experiências que realizei foi observar uma cidade a partir de um morro. Eu via cada detalhe de cada construção. Incrível como o cérebro recria uma cidade nunca antes vista.
Já tentei conversar com pessoas no sonho, mas aparentemente elas só falam o que você imagina que elas falam. Ou seja, no final é sua criação também.
Já voei, ri, chorei (os sentimentos ficam mais aguçados). Há um sentimento que quase não usamos ou quando usamos usamos em pouca intensidade. Se trata daquele sentimento que dá sentido de vida por conhecer e ver. Não sei o nome dele. Mas nos sonhos ele é muito realçado. Pessoas e lugares são muito mais interessantes. Tanto que até acordo com saudades do local onde estive no sonho. Enfim, são muitas coisas que já fiz nos sonhos. Ficaria muito grande o texto para falar tudo.

Anônimo disse...

Legal!