sábado, 19 de junho de 2010

Sonhos Lúcidos: novos relatos



Sem querer entediar o leitor do Blog, selecionei mais algumas experiências ocorridas no mundo onírico.

06/03/2010
Mais ou menos às 03:50 hs


Estava andando à noite em uma rua.

Aviões passam velozmente e já sei que é um sonho (SL). Mesmo assim, para me certificar, puxo o dedo.

Resolvo voar para alcançá-los. Eles fazem manobras rápidas, mas consigo alcançar um deles e o agarro.

É um avião de brinquedo.

Pergunto: - Quem é você ? - mas não há resposta.

Quebro o avião para ver se há alguém dentro, mas nada !

Lembro, ainda no sonho: obviamente a natureza de tudo é vazia.

Olho para o céu novamente e há mais naves.

Vôo em perseguição e alcanço.

Seguro novamente a nave, é outro brinquedo.

Percebo a futilidade disso e fico um pouco confuso, pois agora devo ir atrás ou fazer algo mais importante ?

Acordo.


13/03/2010

Primeiro Sonho Lúcido da noite

Após acordar no final da noite (mais ou menos às 05:00 hs), meditei bastante (meditação do relaxamento profundo/desapego).


Estava em uma faculdade, muitas pessoas no local, acho que era intervalo da aula ou mais provavelmente saída.

Estava com uma amiga e um outro homem, não me lembro quem - eu estava de ótimo humor, brincando com todos.

Descemos a escada para procurar um lugar para almoçar.

Acho que meu sapato desamarra e tenho que parar para arrumá-lo

Quando chegamos na rua, minha amiga não está mais conosco. Procuro-a e a vejo numa loja, um pouco distante.

Mas a voz dela está próxima de mim.

Quando me viro, ela está ao meu lado.

Digo-lhe que é estranho, porque ela estava longe há poucos instantes... e acrescento que parece um sonho - embora esteja incrédulo quanto a isso !

Ela me provoca e, em tom de blague, brincadeira, diz-me para experimentar se é um sonho mesmo.

Meio a contra-gosto, puxo o dedo e este estica !

(OBS: venho observando há algum tempo que, por vezes, o próprio sonho parece "querer"que recuperemos a lucidez onírica. Este exemplo foi o mais explícito, mas não o único. É comum estarmos desconfiados de que seja um sonho, mas desistimos de averiguar; e, na sequência, o sonho nos exibe uma situação ainda mais desconsertante para que não reste dúvidas. Uma variação ou desenvolvimento dessa idéia é de que o SL é resultado da incubação do propósito de continuarmos lúcidos. E, indo mais além, de que a própria lucidez onírica é parte integrante do sonho todo, do enredo onírico todo. Tais reflexões traz imbrincações acerca da natureza ilusória de todo eu-ego separado do mundo - incluído aqui o ego onírico - e da separação sujeito-objeto.)


Não me lembro bem o que fiz em seguida, mas logo "acordo".

Ou melhor, quase...

Segundo SL da noite

Havia "acordado", mas era um falso despertar.

Não me lembro se depois acordo de fato (para dormir e sonhar) ou se simplesmente volto a sonhar este sonho, mas o fato é que entro já lúcido neste sonho (SL).

Estou numa canôa em um rio.

É tudo muito nítido e estou bem lúcido.

Aparece um jacaré e eu o agarro, segurando sua cabeça.

Examino-a detidamente e parece que a cabeça vai se transformando em uma cabeça de cobra ou serpente.

Porém, percebo que, ao fundo, há uma ilhota, que me chama a atenção e parece mesmo que brilha.

Largo a cabeça de jacaré-cobra e me dirijo para a ilhota.

Vem-me à consciencia que penetrar na ilha é como "penetrar em si próprio" (viagem interior) e decido mergulhar dentro da ilha.

Após atravessar uma parede de pedras, dou em uma caverna, onde há uma outra barreira.

"Ciente" de que estou mergulhando em mim mesmo (?), resolvo ultrapassar essa outra parede, porém não consigo.

Após várias tentativas frustradas, acordo.


01/05/2010
(lua cheia)

Primeiro SL da noite

Pensava estar acordado, mas já estava sonhando. Dormi dentro do sonho e então começo a sonhar lucidamente (sonho lúcido dentro do sonho).

Estava muito lúcido e pude comparar o nível de consciência do SL com o estado de consciência anterior - que pensava ser de vigília, considerando ser evidente a diferença: ou seja, de uma certa forma, é como se já entrasse lúcido no segundo sonho, "desperto" pelo nível diferente de consciência.

No sonho, alço vôo e vejo algumas casas embaixo. É uma paisagem rural, com uma estrada e algumas pessoas.

Resolvo pousar em frente a um homem, que está sentado em posição de lótus, em frente a uma pedra que se assemelha a uma mesa.

Faço um cumprimento à moda iogue ou indiana e sento à sua frente, com a pedra entre nós.

O homem (de óculos) começa a falar algo sobre as práticas espirituais, dando ensinamentos ou conselhos a respeito de se dedicar mais etc.

Enquanto ele fala, percebo que a pedra é uma superfície líquida, quando passo a mão sobre ela parece que escorre.

Estou atento ao que ele fala, mas, a uma certa altura, começo a não mais compreendê-lo, sua voz embaralha e acordo.

Segundo SL

Este foi já pela manhã.

Estou em meu apartamento com algumas pessoas, acho que com meu irmão e duas ou três mulheres.

Conversam sobre política internacional - vejo ao fundo um belo fim de tarde, com edifícios já de luzes acesas.

Enquanto conversamos sobre a integração da economia brasileira e argentina, percebo, bem ao longe, por detrás dos prédios, um Cristo redentor - e isso me desperta uma suspeita de tratar-se de um sonho.

Continuo a conversa, sem dar muita atenção para o fato.

Repentinamente, entretanto, surge atrás dos prédios uma fantástica e maravilhosa figura iluminada do Buda (ou Krishna ?) em tons lilás, azul, rosa etc.

Fico maravilhado com a cena e percebo que só pode se tratar de um sonho.

Ainda perplexo e maravilhado, resolvo fazer o teste, e puxo o dedo, que estica (SL).

Porém, mesmo sabendo já se tratar de um sonho, estou muito perplexo com o fato.

Resolvo pular a janela e voar, mas hesito e fico com medo.

Quando finalmente salto, acordo.


02/05/2010

Tive 2 SL pela manhã, após ter acordado (às 04:00 hs). Voltei a dormir por mais 2 horas, mais ou menos.

Como só anotei o SL à noite, acabei me esquecendo do segundo SL.

Antecedentes: meditação do relaxamento, percepção de que o inconsciente/desconhecido prevalece sobre o conhecido (Maharaj); não devemos buscar o reconhecimento.


O SL:

Estava em um elevador - creio que aqui já me encontrava lúcido (SL).

O elevador estava cheio, somente homens.

Recordo-me de haver pensado: nos sonhos sempre me vejo em situações como esta.

Um dos homens está muito aflito e diz algo sobre não gostar nenhum pouco disso ou daquilo - razão de sua aflição.

Ele está de perfil para mim.

Estou muito lúcido e, para acalmá-lo, digo mentalmente para ele não se preocupar com nada, pois tudo aquilo que ele gosta ou não gosta nada tem a ver com sua natureza.

Enquanto digo, parece que minha mente penetra na dele.

Ele se acalma.

E um zumbido ocorre em mim, como se eu mergulhasse em meditação.

Acordo.


OBS: transcrevendo este sonho no Blog, ocorre-me que o homem aflito sou eu mesmo, tendo havido uma fusão de consciências. O insight foi interiorizado por meio do SL.



3 comentários:

Richard Hermeticum disse...

Olá JHolland,
O teu ultimo relato é muito interessante. Fez lembrar-me o relato do monstro na sala de aulas do LaBerge.
A primeira observação que fazes - a que dizes que "o próprio sonho parece "querer"que recuperemos a lucidez onírica" - já foi objecto de meditação da minha parte.
Isso aconteceu-me de forma muito nitida num post meu antigo. Lembro-me de as nuvens do céu mudarem rapidamente e eu não reparar que estava a sonhar. Depois o dia alternava entre dia e noite, e mesmo assim não reparei que estava a sonhar. Finalmente, foi preciso aparecer uma segunda Lua, ainda por cima com a imagem da Helo Kitty, para finalmente conseguir perceber que estava a sonhar.
Isso levou-me a pensar que realmente os próprios sonhos começam a ser cada vez mais obvios, sempre com o intuíto de despertarmos para a lucidez. Lendo o meu diário de sonhos também apercebi-me de outra coisa: os sonhos em que por momento algum desconfiei que estava a sonhar, são completamente vulgares e sem descrepâncias.
Parece-me que quando temos intenção sincera de chegar à lucidez onirica, os próprios sonhos ajudam-nos; mas quando não existe essa vontade, os sonhos são perfeitamente normais.


Abraço,
Richard

jholland disse...

Exatamente.
Daí porque podemos considerar os SL o resultado de uma espécie de incubação.
De um modo mais amplo, essa é uma outra forma de percebermos que a lucidez é ainda parte do sonho, embora em um outro nível, pois aqui começamos um movimento de superação da dualidade.

Richard Hermeticum disse...

Esse teu ultimo comentário fez-me lembrar uma passagem do livro "Meditation, Transformation and Dream Yoga" em que o venerável Gyantrul Rinpoche diz que o orgulho (depois de atingir um certo grau de presença) é o maior inibidor da caminhada espiritual, porque impede-nos de continuar a aprender, e é por isso que existem os reinos dos deva-gods.
Interessante a ideia de até o reino dos deuses ainda não ser a realidade ultima.