terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sonho lúcido do cinema e a dissolução dos olhos

Este sonho acabou de acontecer, foi o último sonho desta noite.
Estava em um cinema assistindo a um filme.
O filme era sobre um homem de meia-idade, uns 50 anos (careca, como um burocrata americano, talvez usando camisa e gravata), que estava recebendo ensinamentos de um mestre. O homem estava em uma varanda de uma casa de madeira, estilo americano e uma mulher e uma criança brincavam com uma bola na frente do homem.
A certa altura, a bola escapou do controle de ambas, acho que caiu longe e a cena do filme voltou-se para o rosto do homem.
Enquanto ele pensava: "vá até a bola; pegue a bola, traga a bola..." era exatamente isso o que acontecia.
Então uma voz apareceu - a voz do mestre - e disse para o homem (talvez para a sua consciência ?):
"Está vendo ? Bastou um pequeno acontecimento e agora vc. percebe como funciona...".
Enquanto a voz dizia isso, a cena ficou estática no rosto do homem, que parecia perplexo com esse ensinamento, agora compreendido por ele. E, ao mesmo tempo, eu, como espectador do filme, também fui ficando perplexo com a simplicidade do ensinamento.
E, enquanto o foco continuava parado no rosto do homem, percebi que seus olhos começaram a se alterar.
Foi quando me dei conta que estava sonhando, pois os olhos do personagem foram se tornando opacos, acinzentados, chegando a desaparecer, dando lugar a uma mancha cinza opaca.
Fiquei observando fixamente, na "tela do cinema", os olhos do personagem, sabendo agora tratar-se de um sonho.
Confesso que era uma cena um tanto assustadora, pois os olhos do homem despareciam em minha frente, como se ele perdesse a visão (na verdade, perdiam os próprios olhos, que se tornaram um mero borrão); porém, mais importante, após alguns instantes, comecei a perceber o surgimento de um novo olho, por trás dessa mancha cinza, que até então havia tomado o lugar dos olhos do homem.
Pareceu-me que se tratava de um "olho interior" e, mais importante, seu surgimento tinha uma relação com aquilo que eu próprio estava pensando enquanto observava a cena, exatamente como tinha acontecido com o homem no "filme" onírico. Essa foi a situação mais longa do sonho: eu mesmo fixei minha atenção nos olhos do homem, distinguindo os olhos que "brotavam" na face do homem, vindo a significar claramente, para mim, o nascimento de uma nova visão.
Lembrei então de olhar as minhas mãos, como que para confirmar a lucidez e ver o que acontecia, pois ainda estava bem perplexo - tanto com a minha lucidez onírica, quanto com a mensagem do filme.
Olhando para as minhas mãos não percebi nada de significativo, porém não me detive muito nisso, pois estava mais interessado nos olhos do homem, que ainda estavam transmutando, ficando mais nítidos, embora diferentes dos olhos normais.
Enquanto essa transmutação ocorria, pensava na mensagem do sonho (o que será que isso significa ? O nascimento de uma visão interior ? - Meus pensamentos eram bem nítidos e claros no sonho)
Foi então que tudo desapareceu, dando lugar apenas a um cinza plácido, liso, sem manchas.
Depois desse "cinza", acordei.
É importante relatar duas coisas acerca dessa experiência:
- ontem, durante o dia, estive especulando acerca do mecanismo dos sonhos lúcidos; considerei ser possível que o fator decisivo para a produção dessa lucidez residiria naquilo que poderíamos chamar de "viver o agora", quando dissolvemos as formulações conceituais. A idéia é de que essa dissolução (na vigília) é o mesmo tipo de experiência que acontece na retomada da lucidez nos sonhos;
- esta noite acordei várias vezes, sendo que o sonho em questão foi o último da noite, após um longo período de insônia. Ou seja, é a situação em que Sephen La Berge considera ideal para a obtenção dos sonhos lúcidos;
- por fim, no período em que estive insone, meditei várias vezes.

3 comentários:

vkitsis disse...

Quais sentimentos/sensações afloraram durante e depois do sonho? Pergunto isso porque normalmente o estado emocional que me acomete durante os sonhos lúcidos prolonga-se durante boa parte do dia.

jholland disse...

É verdade, mas isso não acontece somente com os sonhos lúcidos. Apenas que, nestes, vc. tem consciência disso, ou seja, vc está consciente das sensações que ocorreram no sonho , podendo estabelecer mais claramente a conexão com as sensações/pensamentos na vigília. A influência dos sonhos ordinários se dá da mesma forma, só que de um amaneira mais sutil, imperceptível.
Respondendo à sua pergunta: não sei se em decorrência do sonho ou se em razão do processo no qual me encontro imerso (do qual o próprio sonho é uma parte), passei o dia num estado de ligeiro anestesiamento, diria que fiquei um pouco "descompromissado". Pode ser que a causa seja mais prosaica, pois, como disse na postagem, fiquei insone boa paerte do dia. Esse tipo de sensação já me acometeu muitas vezes, mas há um diferencial importante, que com certeza tem a ver com as influências desse sonho lúcido: trata-se de interpretar esse estado "avoado" e de ligeira confusão de uma forma positiva. Se antes me sentia incomodado com essa especie de desprendimento com o real, hoje interpretei de uma forma diferente, pois creio que isso tem a ver com uma certa perda de referencial do Ego, onde surge a liberdade etc: podemos produzir nossas próprias sensações e visões de mundo de uma forma descondicionada etc.Trata-se de aprendizado de "como lidar com isso". É uma espécie de introdução ao xamanismo.
O que vc acha ?
Bjs.

vkitsis disse...

Vc. colocou bem; realmente trata-se de aprender a desaprender. Provavelmente isso faz parte do processo de "despertar" e consequentemente do xamanismo. Tb. penso que o xamanismo e os diversos aspectos e estados de consciência alterada são uma porta de entrada ao mundo da qual não temos a mínima idéia de dimensão e potencial...