quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sobre sonhos...(6)




Gostaria aqui de descrever um insight que me ocorreu nesta madrugada, durante o estado hipnagógico. Foi uma "mensagem" clara, o que me leva a uma mudança de abordagem.



Resumindo :



- considero que a porta de entrada para os sonhos lúcidos - ou seja, entrarmos em sonho já lúcidos - requer que estejamos lúcidos desde o "primeiro momento", ou seja, desde o momento em que os sonhos começam a se formar;



- pelo que observei, os sonhos se formam primeiramente por meio de "visualizações" - "cenários" completos, providos de grande detalhamento, realismo etc. A diferença entre as "visualizações" e o sonho normal é que o Ego onírico ainda não está formado. Somos apenas espectadores de um "filme";



- portanto, para entrarmos nos sonhos já lúcidos devemos dominar a técnica de entrarmos lúcidos nessas visualizações;



- o que eu vinha tentando até ontem, era entrar lúcido nas visualizações por meio da retenção da atenção lúcida desde o estado precedente, que é o estado hipnagógico. O raciocínio era simples: mantendo-se lúcido durante esse estado e não deixando-se hipnotizar completamente, fatalmente as visualizações surgiriam, sendo uma questão de dosagem, persistência e treino: o sonho se formaria com a atenção ainda firme;



- porém, a novidade foi o insight de ontem: pareceu-me que o estado hipnagógico é uma etapa a ser cumprida tão somente para colocarmo-nos numa frequencia cerebral adequada - um estado de relaxamento profundo. Ele é utilizado pela mente para desconstruir as referências egóicas (corpo, tempo, espaço), quebrar as resistências. Porém, não devemos nos manter nesse estado por muito tempo, na tentativa de prolongar a atenção ao máximo. Ao contrário. Devemos abrir mão de toda a atenção - aceitando e até acelerando o processo de quebra dos referenciais - lançando-nos no "dilúvio" de fluxos a fim de que as imagens (as visualizações) se formem o mais rápido possível.


A sutileza aqui é a seguinte: substitui-se a "atenção" pela "vontade" (prefiro dizer "firme propósito"). Ao nos lançarmos com firme propósito no fluxo (mas sem retenção de atenção), parece que nos transportamos para os cenários oníricos ainda com um certo grau de lucidez. A lucidez é mantida por meio desse "firme propósito" e não por meio da atenção. É como se a atenção estivesse embutida na vontade...




Essa abordagem envolve uma mudança de pressuposto acerca do que seja o "Ego onírico" (e talvez possamos até estender esse questionamento para o Ego normal). Pois usualmente compreendemos o Ego onírico dos sonhos lúcidos como o mesmo que usualmente identificamos na vigília. Se o insight revelar-se correto, a matriz do Ego (onírico e na vigília) é a "vontade", sendo esta que servirá para sua "reconstrução" no novo cenário onírico. Portanto, a mente deve sempre, necessariamente, quebrar todos os referencias do Ego (corpo, tempo, espaço e...a atenção, que depende destes) sobrando apenas o núcleo de "vontade". A partir desta - e não da atenção - é que a lucidez se forma nos sonhos lúcidos.


E de fato, quanto mais tentamos reter "lucidez" (atenção) durante o estado hipnagógico, mais este se prolonga, retardando a entrada "em cena" das visualizações (o início dos sonhos). Retarda-se o sonho. É uma luta injusta para com a mente, pois se queremos entrar nos sonhos, a mente deverá quebrar, previamente, seus referenciais, incluindo aí a "atenção". Pretender manter a atenção firme dá origem a um conflito exaustivo, pois estamos pedindo duas coisas contraditórias: sonho e atenção-egóica.




Assim, tudo isso é bastante coerente com o que já disse acerca da perda de referências, que ocorre justamento no estado hipnagógico. Pois se a mente (a consciência) perde seus referencias, torna-se mesmo impossível manter a atenção, ao menos aquela atenção "consciente" que usualmente utilizamos. O que sobra, então após a "desconstrução" do "Eu" ocorrida no estado hipnagógico (e que é condição necessária para a mente nos transportar para o mundo onírico) ? Sobra a "vontade" (o firme propósito) que será a matriz para a formação do Ego onírico, já na fase de sonho.




Portanto, creio que tudo isso faz sentido: devemos passar pelo estado hipnagógico como transição necessária para a perda dos referencias; detectando que a frequencia cerebral já está baixa e o processo de hipnose avança, devemos lançar-nos no fluxo com maior ímpeto ainda, com esse firme propósito (o propósito mais firme servirá para conferir maior lucidez para o Ego onírico), buscando aquela instância misteriosa e profunda em que as imagens (visualizações) são formadas e que nos transporta para o universo onírico.


Uma vez lá, percebemos que esse firme propósito se traduz em uma firme lucidez.



3 comentários:

Unknown disse...

Leia
Carlos Castañeda - A Arte do Sonhar
explica o fenomeno com uma atmosfera magica dos indios mexicanos.

jholland disse...

Obrigado pela dica, Guilherme.

Bem depois de ter escrito esse texto, acabei lendo o livro, dentre outros.

De qualquer forma, valeu pela dica.

Abs !

Flor Falante disse...

Dica importante e coerente. Obrigada!
Intento!